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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Onde estão os discos das nossas divas

Foram relançados (reunidos em duas caixas e em cada uma delas há um cd de raridades) todos os discos de nossa Abelha Rainha, Maria Bethânia.  Tudo de muito bom gosto. Ela merece isto e muito mais!

Fica faltando as outras divas da nossa música. Quando teremos a obra completa de Angela Maria, Eliseth Cardoso, Nara Leão e tantas outras.

Cada vez que leio nos jornais que saiu algo novo, vou correndo as lojas e descubro que não passa de uma copilação. Eu fico pensando a culpa é das gravadoras ou dos herdeiros que querem lucrar (e acabam jogando as nossas maiores divas na vala do esquecimento). Creio que os herdeiros devem atrapalhar muito a liberação dessas obras. As gravadoras podem lucrar e muito com os relançamentos, afinal de contas para relançar não se gasta tanto e existe um público que quer a obra material (que não se satisfaz apenas com a versão digital da música).

Discografia de Maria Bethânia


Disco de estúdio

• 1965 - Maria Bethânia - Sony Music/RCA

• 1966 - Maria Bethânia Canta Noel Rosa - Sony Music/RCA

• 1967 - Edu e Bethânia - Universal Music/Elenco

• 1969 - Maria Bethânia - EMI

• 1971 - A Tua Presença... - Universal Music/Philips/Polygram

• 1971 - Vinicius + Bethânia + Toquinho - en La Fusa (Mar de Plata) - RGE

• 1972 - Drama - Universal Music/Philips/Polygram

• 1976 - Pássaro proibido - Universal Music/Philips/Polygram

• 1977 - Pássaro da manhã - Universal Music/Philips/Polygram

• 1978 - Álibi - Universal Music/Philips/Polygram

• 1979 - Mel - Universal Music/Philips/Polygram

• 1980 - Talismã - Universal Music/Philips/Polygram

• 1981 - Alteza - Universal Music/Philips/Polygram

• 1983 - Ciclo - Universal Music/Philips/Polygram

• 1984 - A beira e o mar - Universal Music/Philips/Polygram

• 1987 - Dezembros - Sony Music/RCA

• 1988 - Maria - Sony Music/RCA

• 1989 - Memória da pele - Universal Music/Polygram

• 1990 - 25 anos - Universal Music/Polygram

• 1992 - Olho d'água - Universal Music/Polygram

• 1993 - As canções que você fez pra mim - Universal Music/Polygram

• 1993 - Las canciones que hiciste para mí - Philips-PolyGram

• 1996 - Âmbar - EMI

• 1999 - A força que nunca seca - Sony Music

• 2001 - Maricotinha - Sony Music

• 2003 - Cânticos, preces, súplicas à Senhora dos jardins do céu na voz de Maria Bethânia - Sony Music/Biscoito Fino

• 2003 - Brasileirinho - Quitanda

• 2005 - Que falta você me faz - Músicas de Vinicius de Moraes - Biscoito Fino

• 2006 - Pirata - Quitanda

• 2006 - Mar de Sophia - Biscoito Fino

• 2007 - Omara Portuondo e Maria Bethânia - Biscoito Fino

• 2009 - Encanteria - Quitanda

• 2009 - Tua - Biscoito Fino

Discos ao Vivo

• 1968 - Recital na Boite Barroco - EMI

• 1970 - Maria Bethânia Ao vivo - EMI

• 1971 - Rosa dos ventos Ao vivo - Universal Music/Philips/Polygram

• 1973 - Drama 3º ato - Universal Music/Philips/Polygram

• 1974 - Cena muda - Universal Music/Philips/Polygram

• 1975 - Chico Buarque & Maria Bethânia ao vivo - Universal Music/Philips/Polygram

• 1976 - Doces bárbaros - Universal Music/Philips/Polygram

• 1978 - Maria Bethânia e Caetano Veloso - ao vivo - Universal Music/Philips/Polygram

• 1982 - Nossos Momentos - Universal Music/Philips/Polygram

• 1995 - Maria Bethânia: Ao vivo - Universal Music/Polygram

• 1997 - Imitação da Vida - EMI

• 1998 - Diamante Verdadeiro - Sony Music

• 2002 - Maricotinha: Ao Vivo - Biscoito Fino

• 2007 - Dentro Do Mar Tem Rio - Biscoito Fino

• 2010 - Amor, Festa, Devoção - Biscoito Fino



Single Compactos

• 1965 - Maria Bethânia - Sony Music/RCA

• 1965 - Maria Bethânia - Sony Music/RCA

Os shows

• Nós, por exemplo (1964)

• Nova bossa velha, velha bossa nova (1964)

• Mora na Filosofia (1964)

• Opinião (1965)

• Arena canta Bahia (1966)

• Tempo de Guerra (1966)

• Pois é (1966)

• Recital na Boite Cangaceiro (1966)

• Recital na Boite Barroco (1968)

• Yes, nós temos Maria Bethânia (1968)

• Comigo me desavim (1968)

• Recital na Boite Blow Up (1969)

• Brasileiro, Profissão Esperança (1970)

• Rosa dos Ventos (1971)

• Drama - Luz da noite (1973)

• A cena muda (1974)

• Chico & Bethânia (1975)

• Os Doces Bárbaros (1976)

• Pássaro da manhã (1977)

• Maria Bethânia e Caetano Veloso (1978)

• Maria Bethânia (1979)

• Mel (1980)

• Estranha forma de vida (1981)

• Nossos momentos (1982)

• A hora da estrela (1984)

• 20 anos (1985)

• Maria (1988)

• Dadaya - As sete moradas (1989)

• 25 anos (1990)

• As canções que você fez pra mim (1994)

• Âmbar - Imitação da vida (1996)

• A força que nunca seca (1999)

• Maricotinha (2001)

• Brasileirinho (2004)

• Tempo, tempo, tempo, tempo (2005)

• Dentro do mar tem rio (2006)

• Omara Portuondo e Maria Bethânia (2008)

• Amor, Festa, Devoção (2009/2010)

Em nome de Deus (The Magdalene Sisters)

No dia 08 de novembro de 2011, participei do envento Cinema no GSS, da Faculdade de Educação  (FAE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), coordenado pela prof. Adla B. M. Teixeira. A,discussão em torno do filme foi muito produtiva. Abaixo transcrevo o texto que orientou a minha fala. Esse texto também foi publicado no blog "Aprender, (des)aprender, (re)aprender".








Em nome de Deus (The Magdalene Sisters)


 texto de Ronaldo Campos

 


O filme Em nome de Deus (The Magdalene Sisters) foi baseado em fatos reais que foram apresentados pela primeira vez no documentário produzido para o Channel 4 e intitulado Sex in a Cold Climate (1998, direção: Steve Humphries, 50min). Quando da sua exibição causou um forte impacto em todos que o assistiram, inclusive em Peter Mullan que, depois de entrevistar ex-cativas dos reformatórios, escreveu e dirigiu Em Nome de Deus, em 2002, na Irlanda. No mesmo ano, foi o grande vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, conquistando crítica e público, mas também enfrentou a ira da Igreja Católica que não concordava com o modo negativo como as freiras e o catolicismo são retratados.


O título original The Magdalene sisters poderia ter sido traduzido literalmente como “As Irmãs de Maria Madalena”. Há aqui uma referência direta à figura bíblica de Maria Madalena, a prostituta que teria lavado os pés de Jesus Cristo e conseguiu se redimir, pagar pelos seus pecados na terra e entrar no reino do céu. E Magdalene é também o nome dado aos asilos-reformatórios (no original, Magdalene asylums) que recebiam moças desviadas e marginalizadas socialmente. Esses asilos, chamados de lares Madalena, na Irlanda, eram de responsabilidade das Irmãs da Misericórdia, em nome da Igreja Católica. Trinta mil mulheres passaram por esses reformatórios. Muitas viveram e morreram esquecidas pelos seus familiares e pela sociedade nesses Lares.

Sem ser uma obra tão rude e perversa como Dogville (2003), do dinamarquês Lars Von Trier, o trabalho de Mullan, apesar de ser bastante linear, tem conteúdo forte o suficiente para provocar naquele que assiste o sentimento de indignação frente aos abusos provocados por um sistema desumano controlado e dominado pela ideologia cristã de mulheres celibatárias.

O diretor nos apresenta três jovens mulheres que foram internadas numa destas casas no ano de 1964: Margaret (Anne-Marie Duff), Bernadette (Nora-Jane Noone) e Rose (Dorothy Duffy). Na Introdução do filme, descobrimos os crimes cometidos por elas: Margaret foi condenada por ter sido estuprada pelo primo e não esconder o fato dos pais e da sociedade; Bernadette, uma moça muito bonita que atrai os olhares masculinos, não se preocupou em esconder sua beleza e sensualidade; Rose contrariou os costumes conservadores e engravidou antes do casamento (ela é obrigada a entregar o seu filho para adoção e não tinham o direito nem de dar adeus a ele e muito menos manter qualquer tipo de contato).

Portanto, para ser internada num dos Lares Madalena bastava ser mãe antes do casamento, ser bonita\sensual (e ter consciência do fascínio que essa sensualidade provoca nos homens) ou feia demais, retardada mentalmente\ignorantes ou inteligentes, ou vítimas de estupro, em fim, bastava ser mulher e agir de forma oposta as regras socialmente estabelecidas. Por tais crimes e pecados, elas trabalhavam 364 dias por ano (só descansavam na noite de natal), sem qualquer tipo de remuneração. A irmã Bridget era a chefe de todos, e ela punia as meninas se falassem com alguém de fora, se tentassem fugir, se desobedecessem as irmãs e se conversassem durante o trabalho. Trabalhavam o dia inteiro e comiam uma comida bem inferior a das irmãs. Além disso, eventualmente, algumas delas eram obrigadas a prestar certos “favores” sexuais ao padre.

Essas moças viviam um verdadeiro inferno, pois, eram mal alimentadas, surradas, humilhadas, estupradas, e seus filhos levados à força. A história dessas mulheres evoca atos, aspectos e ideias de tempos remotos: a história delas é apresentada como se fosse um terrível pesadelo com matizes inspirados nos atos do Tribunal do Santo Ofício (a Inquisição). Toda dor ou sofrimento não é percebido. Essas moças foram esquecidas e abandonadas a sua própria sorte. E a sociedade irlandesa por sua vez age como se fosse um pendulo ora oscilando entre um silencio cruel ora apoiando ativamente o estado teocrático (esse apoio ocorre quando uma dessas moças foge para casa e o pai a traz de volta de maneira truculenta e aos berros avisa que ela não tem mais família).

O curioso dessa história é que as freiras não tinham poder legal para enclausurar as meninas, as freiras o faziam porque ninguém as desafiou. Há uma cena que um homem que procura a irmã por quatro anos, entra no asilo-reformatório munido apenas por uma carta de um padre e leva a moça de volta para casa sem ter que fazer praticamente nada (não há nenhuma burocracia para retirá-la)

Como explicar atitudes tão reacionárias, em plena década de sessenta que é por muitos considerada como o período de uma incontestada revolução\liberação feminina? Como entender (e aceitar) que na Irlanda, a população era obrigada a conviver com tamanho desrespeito às minorias e às mulheres?

É sabido por todos que a Irlanda vive um sério conflito de base fundamentalista cristão. Lá católicos estão em conflito com os protestantes e esse impasse já produziu várias guerras e inúmeros de atos terroristas. Provavelmente, todo esse conservadorismo (reacionário) religioso era potencializado por questões econômicas inerentes a um país pobre (dividido e em “guerra interna”), que enfrentou longos períodos de fome em massa e de grande contingente de desempregados que por sua vez contribuíram para a formação de uma sociedade conflituosa, cheia de ranços. de comportamentos agressivos, repugnantes e intolerantes, que se apegou ao fundamentalismo religioso (católico-cristão) como válvula de escape.

O que pode nos levar a compreender a persistência de atitudes tão reacionárias é justamente a motivação econômica por detrás de todo discurso moralizante presente na sociedade irlandesa de meados dos anos sessenta do século passado. Torna-se interessante observar a cena em que as três jovens chegam ao reformatório e são apresentadas a irmã Bridget. Nessa cena, o diretor utiliza uma montagem que “brinca” com aquilo que se diz e aquilo que se faz nos Lares Madalena, ou seja, ao mesmo tempo que a irmã explica através de um discurso com forte teor religioso todas as motivações da sua instituição filantrópica, a câmera nos mostra o que ela faz e o que motiva (e garante) a existência de tal instituição católica: a madre separa, conta e guarda uma grande quantidade de dinheiro que foi obtida graças ao trabalho compulsório dessas moças desviadas e marginalizadas socialmente.

A origem desses asilos-reformatórios remonta ao século XVIII. Em território irlandês, o primeiro foi criado para crianças protestantes em Leeson Street, em Dublin, no ano de 1765. Na Irlanda, a Igreja Católica se apropriou da missão de conduzir esses asilos-reformatórios logo após a emancipação católica em 1829. Inicialmente, essas instituições eram destinados a serem refúgios de curto prazo para mulheres de moral duvidosa. Mas com o tempo foram se transformando em instituições de longo prazo, onde as residentes eram obrigadas a trabalhar em lavanderias para garantir a manutenção das casas. Os lares Madalena eram casas autossuficientes que não recebiam recursos e nem eram financiadas pelo poder estatal ou por denominações religiosas.

A ideia de resgate e reinserção social (conseguir trabalho para as ex-prostitutas) foi gradativamente abandonada e os asilos se tornaram verdadeiras prisões para qualquer tipo de mulher que era considerada (ou “classificada”) como uma “mulher caída”. (termo usado para indicar a promiscuidade sexual e o caráter moral inadequado, semelhante ao das prostitutas). Contudo, o período que o filme retrata, as motivações religiosas se tornaram secundárias, evidenciando que esses lares-reformatórios permaneciam muito mais por questões econômicas. As internas eram submetidas a todo tipo de tortura e trabalho forçado em lucrativas lavanderias. Esse tipo de estabelecimento começou a dar sinais de enfraquecimento no final dos anos 70, com o surgimento das máquinas de lavar doméstica, quando inúmeros dos seus clientes deixaram de utilizar os serviços das freiras, o que fez com que paulatinamente os lares Madalena foram deixando de existir. Na década seguinte, sem tantas encomendas e com grande dificuldade em conseguir mão-de-obra (quase) escrava, pois as mulheres finalmente passaram a conhecer os seus direitos. Mesmo assim, as lavanderias foram mantidas com o trabalho de mais ou menos cinquenta mulheres até o dia 25 de setembro de 1996.

Desde 2001, o governo irlandês reconheceu que as mulheres na Lavandarias da Madalena foram vítimas de abuso, mas esse mesmo governo se recusa a realizar investigações mais aprofundadas e indenizar todas a vítimas afirmando que os lares e lavanderias Madalena eram geridas pela iniciativa privada, assim todos os abusos estariam fora da competência governamental.

Em nome de deus não foi a única reação de indignação gerada após a descoberta de tantos abusos. Outros filmes, livros, músicas, peças teatrais e poemas também foram produzidos nesses últimos anos. O filme de Peter Mullan provavelmente foi o que teve a maior repercussão. Um dos motivos do êxito desse diretor (que também é ator e roteirista) está na sua irreverência e na ausência de concessões.

Nessa atmosfera claustrofóbica (emoldurada por uma fotografia escura, onde predominam os tons marrons e ocres), há ainda espaço para momentos de poesia e delicadeza, como por exemplo, na cena da sessão de cinema apresentada no dia de natal. Mulla presta uma nostálgica homenagem a própria história do cinema, quando exibe Os sinos de Santa Maria (The bells of St. Mary´s, direção: Leo McCarey, 1945). Após a apresentação dos créditos iniciais desse filme, deparamos com a beleza clássica da atriz sueca Ingrid Bergman. Ela ficou famosa em Hollywood por filmes como Casablanca, Joana D´arc, À meia luz, Anastácia, a princesa esquecida, entre outros.

Mas, a escolha desse filme dentro do filme não foi aleatória. Ingrid Bergman pode representar a mulher que cai em tentação e consegue ser reabilitada. Isso pode ser explicado da seguinte forma: em 1948, ela conheceu os filmes do diretor italiano Roberto Rosselini (Roma, cidade aberta e Paisá) e através de uma carta, se colocou a disposição do diretor para trabalhar em seus próximos filmes. Essa ligação profissional se tornou pessoal. Mas ambos ainda eram casados quando Ingrid ficou gravida de Rosselini. Essa relação e esse filho fora do casamento provocou um grande escândalo nos Estados Unidos e Ingrid pagou caro por suas atitudes. Ela que antes era vista como um exemplo de comportamento e como uma das mulheres mais bem casadas do cinema, passou a ser considerada uma pecadora, pois, na década de quarenta, mesmo que o seu casamento fosse de fachada o importante era manter a moral aparente. Ou seja, o público que tinha se acostumados a vê-la como freira ou santa, não aceitou o fato dela engravidar de um outro homem quando ainda estava casada com o primeiro marido. Para os americanos, seu comportamento era imperdoável. Além de massacrada pela Igreja, sofreu duras críticas da imprensa, foi proibida de ver sua filha mais velha (Pia, de 10 anos de idade) por mais de um ano, seus fãs a chamavam de vagabunda e até um senador chegou a declarar que a atriz era “uma poderosa influência do mal” para a América, foi denunciada como pecadora no próprio congresso americano e durante anos ficou proibida de voltar à América.

Mas, diferentemente, da atriz sueca que retorna triunfalmente para Hollywood (e é “perdoada” pelo público, crítica e indústria cinematográfica) em 1956 com o filme Anastácia, a princesa esquecida, que lhe garantiu o seu segundo Oscar (o primeiro foi o de melhor atriz em 1944 com À meia luz e o terceiro agora como atriz coadjuvante em 1974 com o filme Assassinato no Orient Express), as mulheres do asilo Madalena nao conseguem escapar. E mesmo quando encontram o portal aberto elas não sabem o que fazer (como agir) com a liberdade. Afinal de contas foram longos anos de muito sofrimento, de privação e de anulação da sua humanidade. Elas se tornaram objetos sem vontade própria. Esse processo de coisificação é mostrado de forma evidente na cena em que as irmãs mandam que elas tirem a roupa e se alinhem em fila. É, nessa posição, que tem início um jogo perverso de humilhação e submissão, onde as irmãs de caridade promovem um concurso para decidir qual tem os maiores e os menores seios, a mais peluda, o maior bumbum. Cada escolha não tem por objetivo valorizar o que é mais bonito ou mais harmônico. As moças vão se sentindo cada vez mais deslocadas como monstros anormais condenados para sempre ao escarnio de toda a sociedade.

Assim, quando os créditos finais aparecem (mesmo que algumas garotas conseguiram fugir desse pesadelo e reconstituir a sua vida) ficamos com a impressão de que no mundo que nasceu sob a égide a revolução francesa os direitos inalienáveis ainda são um luxo para a maioria da população. Quantas mulheres, crianças, gays e outras minorias ainda são condenados simplesmente por serem (ou agirem de forma) diferente daquela que está socialmente estabelecida.


O Brasil ficou fora mais uma vez do Oscar!









Mais uma vez o Brasil está fora da corrida do Globo de Ouro e do Oscar. O filme escolhido "Tropa de Elite 2" foi desclassificado por que foi lançado antes do período determinado pela Academia de Ciências e Artes de Hollywood.  O filme foi lançado em terra americanas com o título  'Elite Squad: The Enemy Within' (Tropa de Elite: O Inimigo Interno). Sumiram com o  número 2  (uma forma de evitar que o filme perdesse público, afinal de contas muitas pessoas podem ficam desestimuladas para ver uma história a partir da segunda parte). Mas tal estratégia não adiantou de nada! O filme de Padilha foi desclassificado.

É curioso que os nossos produtores, críticos, especialistas e outros seres que fazem a seleção não foram capazes de ler os regulamentos do Globo de Ouro e do Oscar! Só pode ter acontecido isto!
Algumas pessoas afirmam que o ano  foi do filme de Tropa de Elite 2 (afinal de contas depois de tanto tempo, esse filme rompeu a marca histórica de "Dona Flor e seus dois maridos"), mas a continuação da história do capitão Nascimento não tem nada de especial para  ganhar o Oscar. E é um filme que não tem nem ao menos uma identidade com a cultura brasileira. A "Tropa..." tem uma estrutura narrativa e de conteúdo muito mais próxima dos americanos. E, mesmo para os estadunidenses, um filme policial (por melhor que ele seja) dificilmente ganharia um Oscar.
Os votantes para o melhor filme de língua não inglesa (nessa categória formam um grupo bastante restrito e difícil de entender o que eles querem)  não ficariam muito a vontade com uma história dessa.
Outra coisa que me espantou foi saber que o filme Bruna, surfistinha foi lançado nos States com intenção de concorrer ao Oscar. Eu fiquei pasmo! Afinal de contas o norte-americano não se sente muito a vontade com filmes de sexo. Ainda mais que a história da menina de classe média que resolve se tornar garota de programa foi conduzida enfatizando o sexo pelo sexo. O filme está mais para uma "Emanuele Tropical do século XX" do que para "Giulietta degli spiriti" (em português: "Julieta dos espíritos"). Falta poesia, drama e paixão na história da Bruna Pacheco, sobra sexo barato. A única coisa que justifica assistir esse filme   é a capacidade de interpretação da Debora Seco (que se perdeu num filme com um roteiro frouxo). Será que no Brasil só são produzidos filmes de violência ou sexo... a resposta é não, mas o problema está na distribuição dos filmes. Muita coisa é produzida, mas esses filmes não conseguem chegar até o público (também falta sala de exibição).

Muita gente pode argumentar que ganhar um Oscar não vai melhorar em nada a nossa indústria áudio-visual. Concordo! Mas, ganhar uma estueta dourada pode dar mais visibilidade para o nosso cinema. E nós precisamos exibir o que produzimos. A maioria dos filmes nacionais que vejo são dvds, por que em Belo Horizonte, os cinemas (os poucos que existem) exibem quase que exclusivamente o cinema produzido nos Estados Unidos.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

imagens (re)desconstruídas

filosofia



By Ronaldo Campos

Desde os tempos mais remotos, o Homem se confronta com algumas perguntas fundamentais sobre si mesmo: o que posso saber?, o que devo fazer?, o que me é permitido esperar? E, finalmente, o que sou? Esta última pergunta é a questão central e mais abrangente de todo o pensamento filosófico. Ou seja, a pergunta pelo homem encontra-se no interior de uma tensão cujos pólos são a natureza e a cultura. Assim, a antropologia filosófica se deparou deste o seu início com a alguns trabalhos que deveriam ser terminados. Como por exemplo, elaborar uma ideia de ser humano que considere a tradição filosófica e as contribuições das ciências humanas. Construir uma justificação crítica dessa ideia e que se apresente como fundamento da unidade dos múltiplos aspectos do fenômeno humano. E por fim estabelecer uma sistematização filosófica que se constitua como Ontologia e responda ao problema clássico da essência: o que é o homem? Ou seja, a filosofia deverá buscar um centro conceitual que unifique as múltiplas linhas de explicação do fenômeno humano e no qual se inscrevam categorias fundamentais que venham a constituir o discurso filosófico sobre o ser do homem ou constituam a Antropologia como ontologia.


De acordo com Henrique C. L. Vaz, em sua obra Antropologia Filosófica I, a concepção de Homem foi formada de modo lento e gradual nos séculos medievais emerge com seus traços quase completos no século XV e verá esses traços completados e integrados até o século XVIII quando o chamado homem moderno já ocupa o centro da cena histórica e passa a ser a matriz das concepções contemporâneas.

O humanismo apresenta uma conotação bastante peculiar que indica tanto um nova sensibilidade em face do Homem como também a redescoberta e a exaltação da literatura clássica, em especial, a latina. Esse conceito renascentista e sua tendência a valorizar o homem racionalmente se mostram influentes: o jargão conhece-te a ti mesmo torna-se uma expressão orientadora das investigações sobre o ser humano nessa época. Promovido pela sentença socrática, ocorre uma retomada e um aprofundamento da idéia do homem como ser racional. Ou seja, o Renascimento rompe com a imagem critã-medieval de Homem e apresenta a possibilidade da visão racionalista que dominará nos séculos XVII e XVIII.

Quem melhor representou essa premissa foi o filósofo René Descartes. Ele estava interessado em um projeto de ciência, entendia que para um conhecimento ser válido era preciso que ele seja certo. Convicto de que muitos dos saberes que recebeu durante a sua formação eram imprecisos e, por sua vez, incapazes de sustentar a busca da verdade. Descartes buscou elaborar um método que garantisse o saber seguro.

Como foi dito acima, René Descartes e a sua concepção racionalista de Homem foi muito influenciada pelo humanismo do Renascimento. Mas traz no seu bojo também uma crítica radical ao vitalismo renascentista e à tradição antiga da psyché e pneûma. Esse filósofo propõe uma inversão na ordem tradicional do saber filosófico (da física para a metafísica). Ou seja, o método aplica-se primeiro ao problema do fundamento último da certeza, o qual conduz ao domínio da metafísica, do qual procederá dedutivamente a física.

No seu texto Meditações Metafísicas, de 1641, Descartes exercita o método que passaria a ser o princípio de seu pensamento. Examinando os modos com os quais se dá o conhecimento humano, o filósofo adota a dúvida como critério, suspentdendo, dessa forma, a validade de todas as proposições que pretensamente seriam verdadeiras. Descartes, após apresentar uma argumentação muito bem fundamentada, depara com a ausência de quase todas as certezas, uma vez que praticamente todos os conhecimentos humanos poderiam ser suspensos por sua dúvida metódica. O filósofo constata, assim, que poderia duvidar de quase tudo, ou pelo menos de que continua duvidando e que, enquanto faz isso, é um ser que dúvida.

Se a dúvida foi o artifício que Descartes utilizou para esvaziar as supostas verdades herdadas e indubitáveis, ela também o conduziu a uma primeira certeza, a de que ele duvida, e que é enquanto duvida. Livre das muitas filigramas que envolve o cânon cartesiano, podemos dizer que nos conduzirá à conhecida fórmula: penso, portanto sou (penso, logo existo).

A assunção histórica do pensar (cogito) cartesiano como sustentáculo do conhecimento seria responsável por um pensamento racionalista que, ao lado da ciência de Galileu Galilei e do empirismo contribuiu para a gestação da revolução cientifica, cujos desdobramentos se propagariam em boa parte do pensamento moderno-contemporâneo.

O Homem do século XVII passa a compreender a si próprio a partir de um espaço epistemológico novo. Neste, toma a si mesmo como razão e seu corpo como máquina operada por essa. Ou nas palavras do próprio Descartes: o espírito res cogitans separa-se do corpo como res extensa para melhor conhecer e dominar o mundo. Desse modo, a concepção de Homem segundo René Descartes se divide em uma metafísica do espírito\da mente (cujo existir se manifesta na evidência do cogito) e uma física do corpo (obedecendo aos movimentos e às leis que impelem a máquina do mundo).

Para Vaz (2001), a antropologia racionalista de inspiração cartesiana é guiada por um otimismo fundamental como respeito à natureza humana e à capacidade humana de conhecer e agir. Mas, foi Hobbes que empreendeu, de forma rigorosa e conseqüente, a aplicação do racionalismo mecanicista para a compreensão do Homem e da sociedade. O homem é o artífice de sua própria humanidade, o que exige que ele saia do Estado de Natureza e se encaminhe para o Estado Civil, fazendo da sociedade e do Estado o espaço e o horizonte de sua realização humana.

.Locke, um grande defensor da tolerância religiosa, deu primazia ao individuo. E foi um ferrenho crítico das idéias inatas ao afirmar que existem no Homem todas as disposições naturais para , usando as próprias capacidades, chegar ao conhecimento de Deus, da natureza e de si mesmo como ser moral. No entanto, o naturalismo lockiano não se confronta com o Cristianismo como é o caso de seus sucessores no movimento da Ilustração. O empirismo lockiano é fundamento de sua teoria política na qual irá inspirar-se todo o pensamento liberal posterior.

Uma das conseqüências dessa crítica das idéias inatas de Descartes pode ser encontrada na concepção da consciência de si como manifestação da identidade pessoal que coloca em relevo a sua estarutura psicológica em um âmbito muito mais vasto do que os limites apodíticos do Eu penso.

A revolução cientifica do século XVII, que encontrou no modelo mecanicista seu paradigma epistemológico fundamental, atingiu todos os campos do saber e da cultura em geral. As concepções filosóficas sobre o homem obedecem a suas influências. Tendo como instrumentos epistemológicos privilegiados a observação e a medida, o novo espírito cientifico se caracteriza por uma nova idéia do método. Os ideais do método ou a definição rigorosa das regras do bem pensar constituem um dos temas dominantes da cultura intelectual da época. As duas grandes vertentes do racionalismo empirista, inspiram as duas grandes concepções do método, a dedutiva e a indutiva, dando primazia à síntese e à classificação.

O iluminismo pode ser definido como um movimento de idéias que dominou o século XVIII europeu e sua repercussão nos campos político, religioso, filosófico, científico, literário e artístico, definindo um "espírito'' que marcou toda uma época e conferiu fisionomia própria a toda uma civilização, designada exatamente como civilização da Ilustração. Assim o cerne do movimento iluminista é justamente a idéia de homem bem como a da história humana e de seu sentido que afasta-se do que fora a concepção dominante nos séculos cristãos

A parir de sua difusão no século XVIII, o "espírito" da Ilustração passa a ser um componente essencial do "espírito" da civilização ocidental. Experiência e analise: são dois termos-chave da linguagem filosófico-científica da Iluminação. Eles definem os constitutivos essenciais de uma idéia da Razão que se considera uma e universal e reconhece seu "discurso do método" nas Regulae phylosophandi que abrem os Principia de Newton.

A linha de evolução segundo a qual a Iluminação lê a história humana é traçada segundo os progressos da Razão. É na Iluminação que se encontra uma das raízes das filosofias da história que florescerão no século XIX.

A novidade característica dessa idéia de progresso da Razão é a da infantilidade da Razão, articulada a um desígnio prático ou poético.

A seguir podemos constatar algumas das teorias assumidas pelo espírito da llustração. A primeira é a humanidade: o sentido que esse tempo assume já é nitidamente secularizado, e seu matiz; e marcadamente axiológico, em contraposição à humanidade objeto do universalismo salvífico cristão. Trata-se, da passagem da humanidade de Bossuet à humanidade de Voltaire. Em seguida, temos o conceito de civilização: ela é a verificação da hipótese da passagem do "estado de natureza" ao "estado de cultura" e do movimento histórica que conduz ao "estado de civilização". Também temos o conceito de tolerância: nascida no século XV, no contexto do dialogo das grandes religiões proposto pelo cardeal Nicolau de Cus, a idéia se fortaleceu no século XVI com a divisão religiosa e as guerras de religiões. No plano jurídico, a idéia de tolerância inspira o tratado de Cesare Beccaari, Dos delitos e das penas (1764), que lança os fundamentos do Direito Penal moderno. O próximo termo é revolução: o termo evolui para designar uma mudança e transformações profundas na sociedade que anunciam o advento de um mundo melhor. Por fim, há o conceito de Humanidade, Civilização, Tolerância, Revolução: entre outras, são idéias diretrizes que, elaboradas segundo os critérios fundamentais das luzes e do progresso, estruturam o espaço mental da Ilustração. Nesse espaço, o homem passa a ocupar o centro do qual irradiam as linhas de inteligibilidade. Assim, o século da Ilustração assiste ao nascimento que se desenvolveram no século XVII.

Embora envolvendo em seu âmago idéias metafísicas, o iluminismo é muitas vezes vinculado à ordem burguesa, em sua manifestação liberal, tocando em aspectos do pensamento sócio-político, artístico-literários, teológico, cientifico e filosófico. Neste contexto, surge a antropologia kantiana. Doutrina sistemática do conhecimento do ser humano, é pragmática uma vez que o conhecimento do Homem acerca de si próprio coincide com o conhecimento do mundo, podendo ser aplicado em seu favor. As questões, pela antropologia kantiana, não são estranhas à obra do filósofo, cujo núcleo se orienta por três questões: “O que posso saber?”, “O que devo fazer?” e “O que me é licito esperar?”

Essas são perguntas apenas possíveis de serem tratadas pelo Homem, questões que remontam a indagação “o que é o homem?”, a ponto do próprio Kant afirmar que as três primeiras perguntas se referem a esta última.

Mas, de acordo com Vaz (2001), o pensamento critico de Kant permanece na linha da dualidade própria da antropologia racionalista.esse dualismo constitui uma estrutura conceptual fundamental do edifício da Razão pratica, seja no nível da razão pura, seja no nível da Razão pratica. No nível da Razão pura, encontramos uma dualidade estrutural entre a sensibilidade e receptiva e a espontaneidade do entendimento. No nível da Razão pratica, a dualidade se estabelece entre o "caráter empírico" do sujeito pratico (domínio da necessidade externa e das paixões) e o "caráter inelegível" (domínio da liberdade). A superação dessas dualidades só será tentada na Crítica da faculdade de lugar, quanto à noção de fim da Natureza é aplicada ao homem nos juízos teleológicos e estéticos.

Em suma, a definição de Homem de acordo com Kant apresenta uma grande complexidade. As linhas principais que se entrelaçam nessa idéia kantiana do homem são as seguintes: em primeito lugar, temos uma linha da estrutura sensitivo racional, que acompanha o homem como ser cognoscente, capaz de formular o ideal da Razão pura e as Idéias transcendentais (o mundo, a alma e Deus). Em seguinda, há uma linha da estrutura físico-prática que acompanha o homem como ser natural ou mundano, físico designando o que a Natureza opera no homem e pragmático o que o homem faz de si mesmo. Por fim, podemos observar a linha da estrutura histórica ou do destino homem, que o acompanha em duas direções fundamentais: religiosa, que aponta para o fim último do homem e a pedagógico-politica, que Kant desenvolve em seus numerosos opúsculos sobre Filosofia da história, política e pedagógica. Nesse opúsculo Kant expõe sua opinião sobre alguns dos problemas clássicos levantados pela Ilustração, como a educação da humanidade, a educação do individuo, o regime político e a liberdade civil. A esse aspecto da concepção kantiana do homem como ser histórico está estritamente vinculada sua doutrina, de caráter ético-jurídico

Referências Bibliolgráficas

ABRAO, Bernadette Siqueira. História da filosofia. Sao Paulo: Nova Cultural, 1999.

CUNHA, Eliel Sivlveira, FLORIDO, Janice. Grandes filósofos: biografias e obras. Sao Paulo: Nova Cultural, 1999.

DESCARTES, René. Coleção Os Pensadores. Sao Paulo: Nova Cultural, 1999.

VAZ, Henrique Cláudio de Lima. Antropologia Filosófica I, São Paulo: Loyola, 2001.

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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Graduado nos cursos de Filosofia e História pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Filosofia da Arte e Estética pela mesma Universidade. Atualmente sou professor assistente b do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Tenho experiência na área de Filosofia, com ênfase em História e Filosofia da Arte, atuando principalmente nos seguintes temas: fundamentos filosóficos da educação, introdução ao pensamento científico e filosofia da ciência, cinema e artes visuais, aspectos formais da arte, criatividade, processo de criação, estética da formatividade de Luigi Pareyson, cultura e modernidade brasileira.