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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

filosofia



By Ronaldo Campos

Desde os tempos mais remotos, o Homem se confronta com algumas perguntas fundamentais sobre si mesmo: o que posso saber?, o que devo fazer?, o que me é permitido esperar? E, finalmente, o que sou? Esta última pergunta é a questão central e mais abrangente de todo o pensamento filosófico. Ou seja, a pergunta pelo homem encontra-se no interior de uma tensão cujos pólos são a natureza e a cultura. Assim, a antropologia filosófica se deparou deste o seu início com a alguns trabalhos que deveriam ser terminados. Como por exemplo, elaborar uma ideia de ser humano que considere a tradição filosófica e as contribuições das ciências humanas. Construir uma justificação crítica dessa ideia e que se apresente como fundamento da unidade dos múltiplos aspectos do fenômeno humano. E por fim estabelecer uma sistematização filosófica que se constitua como Ontologia e responda ao problema clássico da essência: o que é o homem? Ou seja, a filosofia deverá buscar um centro conceitual que unifique as múltiplas linhas de explicação do fenômeno humano e no qual se inscrevam categorias fundamentais que venham a constituir o discurso filosófico sobre o ser do homem ou constituam a Antropologia como ontologia.


De acordo com Henrique C. L. Vaz, em sua obra Antropologia Filosófica I, a concepção de Homem foi formada de modo lento e gradual nos séculos medievais emerge com seus traços quase completos no século XV e verá esses traços completados e integrados até o século XVIII quando o chamado homem moderno já ocupa o centro da cena histórica e passa a ser a matriz das concepções contemporâneas.

O humanismo apresenta uma conotação bastante peculiar que indica tanto um nova sensibilidade em face do Homem como também a redescoberta e a exaltação da literatura clássica, em especial, a latina. Esse conceito renascentista e sua tendência a valorizar o homem racionalmente se mostram influentes: o jargão conhece-te a ti mesmo torna-se uma expressão orientadora das investigações sobre o ser humano nessa época. Promovido pela sentença socrática, ocorre uma retomada e um aprofundamento da idéia do homem como ser racional. Ou seja, o Renascimento rompe com a imagem critã-medieval de Homem e apresenta a possibilidade da visão racionalista que dominará nos séculos XVII e XVIII.

Quem melhor representou essa premissa foi o filósofo René Descartes. Ele estava interessado em um projeto de ciência, entendia que para um conhecimento ser válido era preciso que ele seja certo. Convicto de que muitos dos saberes que recebeu durante a sua formação eram imprecisos e, por sua vez, incapazes de sustentar a busca da verdade. Descartes buscou elaborar um método que garantisse o saber seguro.

Como foi dito acima, René Descartes e a sua concepção racionalista de Homem foi muito influenciada pelo humanismo do Renascimento. Mas traz no seu bojo também uma crítica radical ao vitalismo renascentista e à tradição antiga da psyché e pneûma. Esse filósofo propõe uma inversão na ordem tradicional do saber filosófico (da física para a metafísica). Ou seja, o método aplica-se primeiro ao problema do fundamento último da certeza, o qual conduz ao domínio da metafísica, do qual procederá dedutivamente a física.

No seu texto Meditações Metafísicas, de 1641, Descartes exercita o método que passaria a ser o princípio de seu pensamento. Examinando os modos com os quais se dá o conhecimento humano, o filósofo adota a dúvida como critério, suspentdendo, dessa forma, a validade de todas as proposições que pretensamente seriam verdadeiras. Descartes, após apresentar uma argumentação muito bem fundamentada, depara com a ausência de quase todas as certezas, uma vez que praticamente todos os conhecimentos humanos poderiam ser suspensos por sua dúvida metódica. O filósofo constata, assim, que poderia duvidar de quase tudo, ou pelo menos de que continua duvidando e que, enquanto faz isso, é um ser que dúvida.

Se a dúvida foi o artifício que Descartes utilizou para esvaziar as supostas verdades herdadas e indubitáveis, ela também o conduziu a uma primeira certeza, a de que ele duvida, e que é enquanto duvida. Livre das muitas filigramas que envolve o cânon cartesiano, podemos dizer que nos conduzirá à conhecida fórmula: penso, portanto sou (penso, logo existo).

A assunção histórica do pensar (cogito) cartesiano como sustentáculo do conhecimento seria responsável por um pensamento racionalista que, ao lado da ciência de Galileu Galilei e do empirismo contribuiu para a gestação da revolução cientifica, cujos desdobramentos se propagariam em boa parte do pensamento moderno-contemporâneo.

O Homem do século XVII passa a compreender a si próprio a partir de um espaço epistemológico novo. Neste, toma a si mesmo como razão e seu corpo como máquina operada por essa. Ou nas palavras do próprio Descartes: o espírito res cogitans separa-se do corpo como res extensa para melhor conhecer e dominar o mundo. Desse modo, a concepção de Homem segundo René Descartes se divide em uma metafísica do espírito\da mente (cujo existir se manifesta na evidência do cogito) e uma física do corpo (obedecendo aos movimentos e às leis que impelem a máquina do mundo).

Para Vaz (2001), a antropologia racionalista de inspiração cartesiana é guiada por um otimismo fundamental como respeito à natureza humana e à capacidade humana de conhecer e agir. Mas, foi Hobbes que empreendeu, de forma rigorosa e conseqüente, a aplicação do racionalismo mecanicista para a compreensão do Homem e da sociedade. O homem é o artífice de sua própria humanidade, o que exige que ele saia do Estado de Natureza e se encaminhe para o Estado Civil, fazendo da sociedade e do Estado o espaço e o horizonte de sua realização humana.

.Locke, um grande defensor da tolerância religiosa, deu primazia ao individuo. E foi um ferrenho crítico das idéias inatas ao afirmar que existem no Homem todas as disposições naturais para , usando as próprias capacidades, chegar ao conhecimento de Deus, da natureza e de si mesmo como ser moral. No entanto, o naturalismo lockiano não se confronta com o Cristianismo como é o caso de seus sucessores no movimento da Ilustração. O empirismo lockiano é fundamento de sua teoria política na qual irá inspirar-se todo o pensamento liberal posterior.

Uma das conseqüências dessa crítica das idéias inatas de Descartes pode ser encontrada na concepção da consciência de si como manifestação da identidade pessoal que coloca em relevo a sua estarutura psicológica em um âmbito muito mais vasto do que os limites apodíticos do Eu penso.

A revolução cientifica do século XVII, que encontrou no modelo mecanicista seu paradigma epistemológico fundamental, atingiu todos os campos do saber e da cultura em geral. As concepções filosóficas sobre o homem obedecem a suas influências. Tendo como instrumentos epistemológicos privilegiados a observação e a medida, o novo espírito cientifico se caracteriza por uma nova idéia do método. Os ideais do método ou a definição rigorosa das regras do bem pensar constituem um dos temas dominantes da cultura intelectual da época. As duas grandes vertentes do racionalismo empirista, inspiram as duas grandes concepções do método, a dedutiva e a indutiva, dando primazia à síntese e à classificação.

O iluminismo pode ser definido como um movimento de idéias que dominou o século XVIII europeu e sua repercussão nos campos político, religioso, filosófico, científico, literário e artístico, definindo um "espírito'' que marcou toda uma época e conferiu fisionomia própria a toda uma civilização, designada exatamente como civilização da Ilustração. Assim o cerne do movimento iluminista é justamente a idéia de homem bem como a da história humana e de seu sentido que afasta-se do que fora a concepção dominante nos séculos cristãos

A parir de sua difusão no século XVIII, o "espírito" da Ilustração passa a ser um componente essencial do "espírito" da civilização ocidental. Experiência e analise: são dois termos-chave da linguagem filosófico-científica da Iluminação. Eles definem os constitutivos essenciais de uma idéia da Razão que se considera uma e universal e reconhece seu "discurso do método" nas Regulae phylosophandi que abrem os Principia de Newton.

A linha de evolução segundo a qual a Iluminação lê a história humana é traçada segundo os progressos da Razão. É na Iluminação que se encontra uma das raízes das filosofias da história que florescerão no século XIX.

A novidade característica dessa idéia de progresso da Razão é a da infantilidade da Razão, articulada a um desígnio prático ou poético.

A seguir podemos constatar algumas das teorias assumidas pelo espírito da llustração. A primeira é a humanidade: o sentido que esse tempo assume já é nitidamente secularizado, e seu matiz; e marcadamente axiológico, em contraposição à humanidade objeto do universalismo salvífico cristão. Trata-se, da passagem da humanidade de Bossuet à humanidade de Voltaire. Em seguida, temos o conceito de civilização: ela é a verificação da hipótese da passagem do "estado de natureza" ao "estado de cultura" e do movimento histórica que conduz ao "estado de civilização". Também temos o conceito de tolerância: nascida no século XV, no contexto do dialogo das grandes religiões proposto pelo cardeal Nicolau de Cus, a idéia se fortaleceu no século XVI com a divisão religiosa e as guerras de religiões. No plano jurídico, a idéia de tolerância inspira o tratado de Cesare Beccaari, Dos delitos e das penas (1764), que lança os fundamentos do Direito Penal moderno. O próximo termo é revolução: o termo evolui para designar uma mudança e transformações profundas na sociedade que anunciam o advento de um mundo melhor. Por fim, há o conceito de Humanidade, Civilização, Tolerância, Revolução: entre outras, são idéias diretrizes que, elaboradas segundo os critérios fundamentais das luzes e do progresso, estruturam o espaço mental da Ilustração. Nesse espaço, o homem passa a ocupar o centro do qual irradiam as linhas de inteligibilidade. Assim, o século da Ilustração assiste ao nascimento que se desenvolveram no século XVII.

Embora envolvendo em seu âmago idéias metafísicas, o iluminismo é muitas vezes vinculado à ordem burguesa, em sua manifestação liberal, tocando em aspectos do pensamento sócio-político, artístico-literários, teológico, cientifico e filosófico. Neste contexto, surge a antropologia kantiana. Doutrina sistemática do conhecimento do ser humano, é pragmática uma vez que o conhecimento do Homem acerca de si próprio coincide com o conhecimento do mundo, podendo ser aplicado em seu favor. As questões, pela antropologia kantiana, não são estranhas à obra do filósofo, cujo núcleo se orienta por três questões: “O que posso saber?”, “O que devo fazer?” e “O que me é licito esperar?”

Essas são perguntas apenas possíveis de serem tratadas pelo Homem, questões que remontam a indagação “o que é o homem?”, a ponto do próprio Kant afirmar que as três primeiras perguntas se referem a esta última.

Mas, de acordo com Vaz (2001), o pensamento critico de Kant permanece na linha da dualidade própria da antropologia racionalista.esse dualismo constitui uma estrutura conceptual fundamental do edifício da Razão pratica, seja no nível da razão pura, seja no nível da Razão pratica. No nível da Razão pura, encontramos uma dualidade estrutural entre a sensibilidade e receptiva e a espontaneidade do entendimento. No nível da Razão pratica, a dualidade se estabelece entre o "caráter empírico" do sujeito pratico (domínio da necessidade externa e das paixões) e o "caráter inelegível" (domínio da liberdade). A superação dessas dualidades só será tentada na Crítica da faculdade de lugar, quanto à noção de fim da Natureza é aplicada ao homem nos juízos teleológicos e estéticos.

Em suma, a definição de Homem de acordo com Kant apresenta uma grande complexidade. As linhas principais que se entrelaçam nessa idéia kantiana do homem são as seguintes: em primeito lugar, temos uma linha da estrutura sensitivo racional, que acompanha o homem como ser cognoscente, capaz de formular o ideal da Razão pura e as Idéias transcendentais (o mundo, a alma e Deus). Em seguinda, há uma linha da estrutura físico-prática que acompanha o homem como ser natural ou mundano, físico designando o que a Natureza opera no homem e pragmático o que o homem faz de si mesmo. Por fim, podemos observar a linha da estrutura histórica ou do destino homem, que o acompanha em duas direções fundamentais: religiosa, que aponta para o fim último do homem e a pedagógico-politica, que Kant desenvolve em seus numerosos opúsculos sobre Filosofia da história, política e pedagógica. Nesse opúsculo Kant expõe sua opinião sobre alguns dos problemas clássicos levantados pela Ilustração, como a educação da humanidade, a educação do individuo, o regime político e a liberdade civil. A esse aspecto da concepção kantiana do homem como ser histórico está estritamente vinculada sua doutrina, de caráter ético-jurídico

Referências Bibliolgráficas

ABRAO, Bernadette Siqueira. História da filosofia. Sao Paulo: Nova Cultural, 1999.

CUNHA, Eliel Sivlveira, FLORIDO, Janice. Grandes filósofos: biografias e obras. Sao Paulo: Nova Cultural, 1999.

DESCARTES, René. Coleção Os Pensadores. Sao Paulo: Nova Cultural, 1999.

VAZ, Henrique Cláudio de Lima. Antropologia Filosófica I, São Paulo: Loyola, 2001.

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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Graduado nos cursos de Filosofia e História pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Filosofia da Arte e Estética pela mesma Universidade. Atualmente sou professor assistente b do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Tenho experiência na área de Filosofia, com ênfase em História e Filosofia da Arte, atuando principalmente nos seguintes temas: fundamentos filosóficos da educação, introdução ao pensamento científico e filosofia da ciência, cinema e artes visuais, aspectos formais da arte, criatividade, processo de criação, estética da formatividade de Luigi Pareyson, cultura e modernidade brasileira.