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quinta-feira, 22 de abril de 2010

O Museu Pedagógico e Laboratório “Leopoldo Cathoud”

                                        O Museu Pedagógico e Laboratório “Leopoldo Cathoud”



Durante a sua existência centenária, a nossa antiga Escola Normal Modelo, hoje o célebre  Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG),  reuniu um importantíssimo acervo e formou o ainda hoje famoso Museu Pedagógico e Laboratório “Leopoldo Cathoud”. Este importante espaço pedagógico possui um importante conjunto de equipamentos de física, química e astronomia, além de inúmeras  amostras mineralógicas, zoológicas, botânicas, paleontológicas. São mais de 5 mil peças, expostas em setores temáticos, que praticamente resumem a história da evolução científica ocidental.  Essa coleção teve inicio por volta dos anos 30 do século passado com peças provenientes da Alemanha. Mas, oficialmente, o Museu Pedagógico e Laboratório Leopoldo Cathaud só foi criado em 1946.

Durante anos, o professor Leopoldo Cathoud (e os que seguiram) utilizaram todos esses materiais nas suas  aulas práticas com o objetivo de implementar  de atender as necessidades pedagógicas do curso normal. Por ser  útil na sustentabilidade pedagógica do curso de formação de professores, o laboratório ajudava a embasar e dar sentido as aulas teóricas no campo das ciências. O senhor Cathoud não acreditava que aulas expositivas (quase que apresentações de monólogos pelo professor), blocos de exercícios repetitivos e uma memorização mecânica pudessem contribuir para a construção de um saber pleno. Pelo contrário, ele acreditava que era necessário ensinar o aluno "aprender a aprender". Por isto, Cathoud utilizava em suas aulas uma metodologia indutiva experimental. E, desta forma, contribuiu na formação de visitantes, estudantes, educadores e pesquisadores.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Belo Horizonte: terra estranha


                                                 


                                        CONTO: BH - A CIDADE DE GENTE ESTRANHA

                                                                                                               RONALDO CAMPOS


Belo Horizonte é uma cidade curiosa,  uma terra estranha de gente  muito esquisita... Mas no fundo é um lugar muito bom para se viver. Nas terras das Alterosas, todos os dias, ocorre um grande desfile de coisas, pessoas e histórias muito curiosas.




Como todo lugar do mundo, em algumas situações bem particulares, pobres e ricos são obrigados a conviverem muito a contra gosto. Sempre temos aqueles ricos que gostam de fingir que são pobres. Há também muitos pobres que acreditam que são ricos. Sem esquecer daqueles que são o que são e não fazem questão nenhuma de conviver com os outros. No meio dessas pessoas, há uma certa mulher muito conhecida de todos na capital mineira pelo apelito de Zélia Parte o Menor (ou Zélinha Soma mais nada) . Ela acreditava ser muito respeitada, mas quando era assim chamada ficava claro (que da rua Bonfim até os arredores do bairro Borba Gato) que não passa de um grande nada e que todos nutriam por ela o pior e o maior  desprezo.
A Zelinha (era dessa forma que a sua santa mâe a chamava)  vivia numa casa modesta e muito distante  das mansões e belos apartamentos da burguesia tradicional belorizontina. Um belo dia, ela teve a certeza de que estáva vivendo do lado errado da cidade. Ela não era (e nem se sentia) pobre, simplesmente, estava vivendo um momento bastante pobre. Por isto, certo dia quando contava as suas poucas moedas para comprar uma revista usada de moda, resolveu  que tinha que fazer algo para acabar com essa situação paradoxal. Ela pensou alto (melhor dizendo, ela gritou para todo mundo ouvir):

                                 - "Como uma mulher tão sofisticada quanto eu não tem o reconhecimento e o capital financeiro que mereço? "

O que sei é que essa mulher disse para si mesma que não podia  continuar a ter uma existência miserável se era tão fina. Pois, essa estranha mulher achava que possuia tudo para levá-la ao mundo da revista Caras. Ela sabia o nome de todos os colunáveis. Conhecia o endereço de todos os mais caros restaurantes, a marca de todos os bons vinhos, perfumes ou grifes (apesar de nunca ter provado ou usado nenhum deles).

Zélinha em alguns momentos até chegava acreditar que o mundo real nada mais era do que uma projeção do mundo das idéias. Mas, em outros,  também sabia que o Brasil era uma sociedade capitalista. E sem a posse dos meios de produção, nunca seria parte integrante da elite. E nesse conflito ideológico, a pobre  Zélinha vivia a sua angustia. A única certeza que tinha era o ódio crescente em torno da figura e das idéias marxistas (e também dos conceitos capitalistas).

Todos os dias essa mulher praguejava, gritava e tentava expor todos os seus mais profundos recalques.

Mas o mundo girava e tudo continuava como sempre... Dona Zélia e a sua mais imensa pobreza.

Os dias foram passando... Até que.....

Zélia encontrou um talão de cheques. A dona tinha o mesmo nome que o seu. De início, Zélia pensou em se apossar do talão, mas os seus valores éticos não pertiam tal ato.

Zélia foi até a casa da outra Zélia. De longe, ela viu tudo que aquela mulher possuia. Eram tantas coisas, tudo tão belo, tão novo, tão intocável... Pensou como uma pessoa podia ter tudo e não usufruir nada!



Zélia descobriu que a outra Zélia não saia de casa. Era uma mulher doente. Nenhum vizinho nunca tinha visto a mulher dona de tantas posses.



"Que desperdício! Praguejava Zélia....



Zélia descobriu que os seus valores não eram tão nobres assim. Ela pensou que podia se passar pela outra. Tentou abrir  um buffet chamado "A mais doce Margarina Amarela". Ela acreditava que através dele poderia fazer parte do mundo das celebridades. Mas, nada para ela funcionava.

Tudo sempre ocorria de forma contrária.


Nos seus delírios mais loucos, Zelinha acreditava que no mundo contemporâneo bastava querer. Pensava que qualquer pessoa poderia ser a projeção do seu desejo. Queria ser rica, ter o reconhecimento social, ter cultura e influenciar as pessoas. Contudo, a pobre mocinha descobriu uma coisa muito importante: se os outros também não compartilhassem com tais visões de nada adiantaria tanto fervor do seu desejo. Por isto, a pobre moça quis se apossar do que era da outra.


Mas, as coisas não aconteceram da forma como ela queria. Tentou abrir um negócio próprio. Mas, acabou sendo desmascarada e ficou no ostracismo por alguns anos. Não conseguia emprego, não tinha dinheiro. Ela guardou um chave velha de carro para pendurar na sua bolsa. Acreditava ser esse objeto o único que lhe garantiria um resto de dignidade no capitalismo. A chave do carro representaria todos os bens de consumo que sempre sonhou ter e nunca pode usufruir. Era o símbolo dos sonhos capitalistas. Quando segurava aquela chave e entrava em algum lugar tinha a impressão de que todos iriam pensar nela como uma mulher bem sucedida e feliz. Mas, no mundo real, as coisas eram muito diferentes.
Os dias para ela passavam lentamente. Vivia da caridade das amigas que sempre compravam algumas roupas que ela mesma fabricava. Eram peças tão feias que acabavam no fundo do guarda roupa das poucas amigas que tinha. Assim, mais um sonho de Zélia se perdeu na escuridão do esquecimento.






Com suas peculiaridades, as citações abaixo expressam dois momentos da luta histórica pela promoção dos Direitos Humanos.

Cena 1
“Quando Anu o Sublime, Rei dos Anunaki, e Bel, o senhor dos céus e da terra, que decretaram o destino da terra, assinalaram a Marduk, o todo-poderoso filho de Ea, deus de tudo o que é direito, o domínio sobre a humanidade, fazendo dele grande entre os Igigi, eles chamaram a Babilônia por seu nome ilustre, fizeram-na grande na terra, e fundaram nela um reino perene, cujas fundações são tão sólidas quanto as do céu e da terra; então, Anu e Bel chamaram por meu nome, Hamurabi, o príncipe exaltado, que temia a deus, para trazer a justiça na terra, destruir os maus e criminosos, para que os fortes não ferissem os fracos; para que eu dominasse os povos das cabeças escuras como Shamash, e trouxesse esclarecimento à terra, para assegurar o bem-estar da humanidade. O poderoso filho de Sin-muballit; o escudo real da Eternidade; o poderoso monarca, o sol da Babilônia, cujos raios lançam luz sobre a terra da Suméria e Acádia; o rei, obedecido pelos quatro quadrantes do mundo; adorado de Nini, sou eu. Quando Marduk concedeu-me o poder de governar sobre os homens, para dar proteção de direito à terra, eu o fiz de forma justa e correta... e trouxe o bem-estar aos oprimidos.” (Adaptado: Código de Hamurabi)


Cena 2
“Todo homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.” (Declaração Universal dos Direitos Humanos)

Buenos Aires 100 Km

Buenos Aires
100 Km

Ronaldo Campos

Inicialmente, gostaria de responder uma pergunta que se repetiu muitas vezes antes e depois do Cineducação. Várias pessoas queriam saber quais foram os motivos que me levaram a escolher um filme argentino para exibir num evento de boas vindas aos alunos do curso de Pedagogia.
Em primeiro lugar, Buenos Aires 100 km é uma obra que recebeu vários prêmios internacionais e críticas positivas. O segundo motivo pode ser explicado da seguinte forma: esse filme teve um lançamento muito tímido no Brasil e foi praticamente ignorado pelo grande público (ficando restrito aos cinemas de arte e circuitos alternativos). O terceiro motivo (tem uma ligação direta com o anterior): o circuito comercial de exibição em território brasileiro é controlado por distribuidores que têm uma ligação direta com os grandes estúdios norte-americanos. Tal fato inviabiliza a exibição de filmes que não estão vinculados aos grandes estúdios de Hollywood. E, historicamente, os cineclubes foram (e ainda são) espaços ideais para exibir filmes alternativos. Além disso, o filme Buenos Aires 100 km é um drama calcado nas relações humanas com um bom roteiro e boas interpretações.
Muito se falou, na imprensa dedicada à arte cinematográfica, da capacidade do cinema argentino de produzir bons filmes, mesmo mergulhado em profundas crises econômicas. E não podemos fugir também da inevitável comparação entre a cinematografia brasileira e Argentina. Por este motivo, inicialmente, é importante tratar de algumas questões que marcaram decisivamente a trajetória do novo cinema da América Latina, especialmente, do Brasil e da Argentina.
As graves crises econômicas das décadas de 80 e 90 do século passado geraram alterações profundas na produção áudio-visual de países emergentes, como por exemplo, Brasil e Argentina. Certamente, para o cinema, o momento mais grave no território brasileiro foi o do governo Collor e, em especial, o episódio da extinção da Embrafilme. Logo após a sua posse, o então presidente da república, Fernando Collor de Melo rebaixou e transformou o Ministério da Cultura em Secretaria. Foi indicado o cineasta Ipojuca Pontes para ‘dirigir’ a cultura e, nessa mesma época, foram extintos os órgãos ligados à área: FUNARTE, EMBRAFILME e CONCINE.
Esse processo de desestruturação da intervenção do Estado no campo cultural e, em especial, cinematográfico, produziu um impacto fulminante. A produção e a exibição no Brasil diminuiu radicalmente, por exemplo, em 1992, os filmes nacionais (três filmes no total) tiveram um público de 36 mil espectadores. Esta situação só começou a ser alterada com o cinema da retomada, onde se destacaram Carlota Joaquina (1995) e Terra Estrangeira (1996).
Durante o governo neo-liberal do presidente Menem, coincidentemente, no período que abrange a última década do século XX, a Argentina vivenciou a mais grave e conturbada crise político-econômica que produziu o empobrecimento e o achatamento da classe média, além da gradual quebra de importantes instituições bancarias. Paradoxalmente, esse contexto de crise econômica não significou (como no caso brasileiro) a “destruição”, mas os argentinos viram nesse período a sua produção áudio-visual ganhar tanto espaço como reconhecimento mundial.
Tal aparente contra senso pode ser explicado com o seguinte argumento: no ano de 1995, foi sancionada uma nova lei que tornava obrigatório cinema e televisão captar recursos para financiar produções, estabelecendo também regimes de co-produção com países estrangeiros: essa política de fomento obtém capital através da taxação sobre os ingressos de cinema vendidos, a locação e venda de fitas de VHS ou DVDs e sobre a arrecadação das emissoras de TV. A partir daí a filmografia argentina encontrou um novo caminho. Essa nova legislação ajudou a incrementar de maneira efetiva os recursos para a produção e exibição de filmes. Os recursos foram ampliados de dois milhões de dólares em 1990 para 53 milhões de dólares no ano de 1997.
No final da era Menem, muitos jovens cineastas recém-saidos da FUC (Universidade Del Cine) produziram com o apoio das leis de incentivo bancadas pelo INCAA (Instituto Nacional de cine y artes audiovisuales). Essa nova geração (premiada) de roteiristas, diretores e produtores surgiu com ímpeto e vontade de renovar tanto a estética como a temática do cinema do país. Podemos citar alguns diretores e suas obras mais recentes: Juan José Campanella (“O Filho da Noiva”). Fabián Bielinsky (“Nove Rainhas” e “A Aura”), Lucho Bender (“Felicidades”), Lucrecia Martel (“O Pântano”, “A Menina Santa”, “A Mulher sem Cabeça”), Adolfo Aristarain (“Lugares Comuns”,), Pablo Trapero (“Família Rodante”), Daniel Burman (“O Abraço Partido”), entre outros.
Podemos definir esse novo cinema argentino como sendo um olhar vigoroso e contundente da realidade que vincula histórias cotidianas com questões públicas, procedimentos típicos do cinema de gênero e uma desenvoltura/leveza fora do comum no trato com as questões desse novo milênio. Mariana Bonfin (2009), no seu artigo intitulado “O novo cinema argentino”, afirma que é possível estabelecer algumas características comuns aos filmes lançados a partir da segunda metade do século XX.

Em primeiro lugar, a família, como forte instituição que deveria unir através de suas relações, mas que cada vez mais causa um afastamento saudosista e melancólico na sociedade. Em segundo temos a forte descrença e apatia do povo argentino depois de sucessivas crises econômicas, refletindo em atitudes desnecessárias e alienadas nas personagens dos filmes, tudo com diversas metáforas e disfarces. (BONFIM, 2009)

Buenos Aires 100 Km (Buenos Aires 100 kilómetros, 2004) é um exemplo recente da nova safra de cinema da Argentina. Foi lançado sem muito alarde e recebeu prêmios e críticas positivas nos diversos festivais em que participou. Filmado em seis semanas com um custo de 400 mil dólares, marcou a estréia do diretor, roteirista e produtor, Pablo José Meza.
O tema central desse filme é a passagem da infância à adolescência com foco principal no universo masculino. O diretor tem um olhar contundente da realidade aliado a um imenso carinho do pelos seus personagens e conflitos. Em várias entrevistas, Pablo José Meza disse que esse filme não pode ser considerado uma autobiografia, mas da mesma forma que Amarcord (1973), de Federico Felini ou Memórias (1980), Zelig (1983) e A era do rádio (1983), de Woody Allen, o seu Buenos Aires 100 km tem vários elementos autobiográficos.
A história se passa numa pequena cidade distante 100 quilômetros da capital Argentina. Nessa cidade estagnada pelas sucessivas crises econômicas do final século passado, cinco adolescentes vivem os seus conflitos e incertezas durante um tedioso verão. Todas as tardes, esses jovens se reúnem para dividir as suas experiências na escadaria de um salão de beleza feminino. Um deles é Esteban que sonha em ser um escritor, mas é obrigado pelo pai a fazer um curso de desenho técnico. O outro, Alejo, não sabe que a sua mãe tem um amante. E que essa história faz parte das mais picantes fofocas do lugar. O terceiro, Guido, acredita que o seu pai vai ficar rico, comprar um caminhão e uma casa na capital. Damián, o quarto adolescente, se revolta ao descobrir que é adotado. Matias, o quinto garoto, é negligenciado pelos pais e muitas vezes trancado fora de casa, sendo obrigado a dormir na soleira.
Os cinco adolescentes vivem uma época de incertezas, de novas perspectivas que se abrem e caminhos que chegam ao fim. Eles querem manter tanto o grupo como a amizade que os une, mas tudo corre perigo: crescem os problemas, intensificam o sofrimento, a cidade que os viu crescer parece se tornar cada vez menor e cada vez mais sufocante. Eles têm consciência que precisam escolher novos caminhos e entrar no mundo adulto.
De imediato, na longa cena de abertura (quando os garotos preparam balões cheios de água para jogar nos incautos passageiros de um ônibus), lembramos de um dos títulos seminais da nouvelle vague: Os Incompreendidos, de François Truffaut. Nessa obra prima do cinema francês, os jovens estão sempre envolvidos em confusões, daí podemos compreender que o sub título original (les quatre cents coups) é uma expressão idiomática dos franceses que podemos traduzir como pintar o sete. No filme francês, Antoine (muito parecido com Esteban) cansado do autoritarismo dos pais e da escola, busca refugio nos livros, nas amizades e na prática de pequenos delitos.
Para François Trufaut, a adolescência é reconhecida por pedagogos, educadores e sociólogos, mas negada pela família, pelos pais. Se o universo familiar nega a autonomia e liberdade para os jovens, forma-se o sentimento de injustiça e de revolta. O mundo passa a ser visto pelos jovens como algo injusto, então, é preciso fazer alguma coisa: “faz-se o que deseja, mesmo que isto seja proibido”, afirmou o diretor francês. Dessa forma, as travessuras realizadas pelos adolescentes podem ser vistas como atos de rebeldia e o lema que orientaria a vida dos jovens poderia ser resumido da seguinte forma: “é proibido proibir”. Não é uma rebelião sem motivos. O que é intenso na juventude é o desejo de viver e a percepção de que a vida dos adultos e a dos idosos não são necessariamente ideais para a juventude.
Sabemos que a escola tem por função cimentar o hiato entre a família e a sociedade, mostrando que existe (ou pelo menos deveria existir) uma continuidade entre a juventude e o mundo adulto. No filme de Meza, a história se passa durante as férias de verão, onde a escola não está presente (a não ser no caso de Esteban que ficou de “recuperação” e tem muitas tarefas para executar). Na produção Argentina, o conflito está centralizado mais nas relações familiares ou de amizade do que no universo escolar.
Longe da escola, esses cinco adolescentes têm o grupo juvenil para realizar a tarefa de construir uma ponte entre esses dois universos, mas, de modo diferente da escola, o grupo adolescente faz justamente o oposto: ele se baseia na autonomia dos adolescentes e busca enfatizar a identificação entre os seus membros, valorizando o modo de vida e a defesa de determinados pontos de vista. Certamente, não há aqui uma coincidência entre o estilo e a ideologia propagada pela oficialidade.
Etimologicamente, adolescência é um temo de origem latina (“ad-olescere”) que significa “crescer para”: “crescer da infância para a vida adulta”. Historicamente, a adolescência passou a existir de fato após a Revolução Industrial. Sabemos também que a acepção de adolescência (ou de juventude) não pode ser considerada de forma alguma como sendo um conceito universal. O traço distintivo que pode ser visto de maneira global limita-se, basicamente, a um certo tipo de passagem de um determinado estado reconhecido pelo grupo social como infantil para um estado adulto.
A juventude / adolescência também pode ser vista como a Idade de Ouro para a qual os sonhos se voltam. É muito comum nessa época da nossa vida, sonhar com o futuro que queremos. Em alguns casos, sofremos com a pressão familiar (ou social) que impõe ou uma carreira já consolidada pelos pais (o pai médico ou engenheiro deseja que o filho também siga a sua profissão) ou uma profissão que trará ascensão social ao grupo familiar. E nesses casos, o jovem se perde entre as várias possibilidades e a realidade. Guido, por exemplo, tem uma existência difícil: ele não freqüenta a escola e tem que ajudar o pai (um caminhoneiro grosseiro) na entrega de frutas e legumes. O jovem idealiza tanto o pai como o futuro que terá. Esteban freqüenta a escola (e “tem” que realizar o sonho do pai: ser o projetista de todos os edifícios da cidade), mas sonha com uma carreira que não é vista como segura ou promissora (viver como escritor). Os sonhos de Esteban e de Guido são na verdade projetos para a vida adulta. Ao estabelecerem como parâmetros, os valores antes considerados perenes (durante a infância) são colocados em questão. Um adolescente pode (re)ver tais princípios ou projetos, mesmo porque ele ainda não possui (de maneira consolidada e estabelecida) nem uma vida amorosa nem uma vida profissional ou financeira.
O filme de Meza nos mostra que muitas vezes não ocorre a coincidência entre o desejo e sua realização. Damián sabe que a vida confortável na capital (proporcionada pelo pai) não se realizará concretamente. Quanto aos sonhos de Esteban, o diretor deixa em suspenso. Não sabemos se ele de fato vai se tornar um grande escritor ou vai seguir os desejos do pai. Assim, como os meninos do filme, também tivemos muitos sonhos. E a quase totalidade deles não se realizou. Mas, não importa se o sonho não se concretizou efetivamente, a formulação do desejo em si mesmo já é uma forma de realização. Pois, passada a fase da juventude e ao recordamos os nossos devaneios juvenis, percebemos que a lembrança desses sonhos nos traz a própria realização dos nossos desejos: a possibilidade dele ser expresso.
O ser humano precisa sonhar. E muitas vezes sonhamos com o impossível, com o inalcançável, mesmo cientes da impossibilidade da sua realização, percebemos que esse desejo ou o sonho é o fato que cria uma determinada força para prosseguir com o nosso dia a dia. O próprio cinema é uma forma de realizar certos sonhos e projetos que não serão concretizados de fato. Como Esteban podemos construir (escrever / imaginar) histórias que só irão existir na nossa mente, ou seja, podemos viver através do cinema (ou da literatura) vidas que não são as nossas, mas, no momento em que assistimos o filme, essa vida (essa fantasia) passa a ser nossa também.
Jose Pablo Meza com essa obra se integra ao time de grandes realizadores cinematográficos que trataram da infância-adolescência. Ao nos identificarmos com os seus personagens, ele nos propõe a utopia de sermos eternamente jovens (pelo menos naqueles noventa minutos que ficamos imersos pela atmosfera do seu filme). Ele nos dá a lente da imaginação para observar o mundo dos adulto. E, assim, somos transportados para uma época, a juventude, o período do ócio: a época de podermos ter desejos e projetos para (e que serão lembrados por) toda a nossa vida.

Para responder as dúvidas sobre o cinema argentino

O texto acerca do filme "Buenos Aires 100 km" gerou no meu e-mail algumas dúvidas e perguntas. Para tentar responder algumas delas, publico no blog alguns apontamentos sobre o cinema argentino. Este não objetivam resumir toda a história do cinema argentino, pelo contrário, essas notas são pontuais (e até mesmo esquemáticas.



Como (praticamente) toda produção cinematográfica do nosso continente, o cinema argentino também se estruturou em ciclos. De forma bastante sumária, podemos apresentar tais ciclos a partir de dois momentos, a saber: o primeiro, auge e expansão; o segundo, a estagnação e um paulatino declínio.
A Argentina pode ser incluída entre os primeiros países do mundo que tiveram contato com a grande invenção dos irmãos Lumière, o cinematografo. A primeira exibição pública ocorreu em 18 de julho de 1896, no Teatro Odeon de Buenos Aires.
A produção fílmica argentina (considerada pioneira na América Latina) foi impulsionada por importantes diretores como Lucas Demare, Mario Sofici e Hugo Del Carril que produziram clássicos como Prisioneiro de La tierra, La guerra gaucha, entre outros. Estas obras se destacaram pelo alto profissionalismo e uma técnica apurada de nível internacional.
Com a chegada do peronismo ao poder no ano de1946, paradoxalmente, não gerou uma produção cinematográfica influenciada por temas sociais reivindicatórios, ao contrário do que ocorreu no plano das classes trabalhadoras. O cinema dessa época apresentou os valores populistas do peronismo em filmes marcadamente conformistas e sem o talento e técnica do período anterior. Destacaram-se nessa época comédias ligeiras como Telefone Branco, onde, as estrelas se vestiam ricamente com peles e muitas jóias seguindo a moda da primeira dama do país, Evita Peron. Também dessa época destacam-se as adaptações literárias: Os três mosqueteiros, A dama das camélias, entre outros.
Em meados dos anos cinqüenta, a influência da cinematografia mexicana se faz sentir em quase todo o continente. Entretanto, a Argentina se torna uma ilha cinematográfica que atrai grande interesse da crítica especializada, por buscar influencia na Europa e se afastar do melodrama mexicano.

QUEM FOI LEOPOLDO CATHOUD?

QUEM FOI LEOPOLDO CATHOUD?

Leopoldo Cathoud era filho de Fritz Cathoud. E tinha por tio paterno: o Sr. Armando Santos Cathoud.

Leopoldo Cathoud nascido em Juiz de Fora em 8 de Fevereiro de 1884. Filho de Fritz Cathoud e de Joanna Cathoud.
Fez seus primeiros estudos no Colégio Andrés de Juiz de Fora e em seguida no Lyceu de BarbaCena. Esteve na Europa, na Suíça, onde fez diversos cursos. Diplomou-se na Escola de Relogioaria e eletricidade de Fleurier. Foi relojoeiro e professor durante muitos anos . Naturalista lecionou (em Viçosa na Escola de agronomia ) ciências nas escola normais de Juiz de Fora e Belo Horizonte. Casou-se em Juiz de Fora com Anna Gonçalves Coelho. Não deixou descendência. Sócio de diferentes sociedades e associações científicas. Secretario da Academia de ciências de Minas Gerais. Morreu subitamente no posto de honra, quando dava aula na Escola Normal de Belo Horizonte às 13 horas do dia 26 de outubro de 1942. Seus funerais foram, em uma justa homenagem, custeados pelo Estado que fez todas as despesas, inclusive o transporte do corpo para Juiz de Fora em cujo Cemitério Municipal foi sepultado. Professores da Escola Normal de Belo Horizonte e o Dr. Américo Repetto, diretor da Escola Normal de Juiz de Fora fizeram o seu elogio fúnebre na borda da sepultura. Não deixou descendência.

sábado, 3 de abril de 2010

Robinho, Neymar e Ganso se arrependem por não visitarem instituição

Acabei de ler no site do ESPBR a seguinte manchete "Robinho, Neymar e Ganso se arrependem por não visitarem instituição". De acordo com o site, os jogadores Robinho, Neymar e Ganso "pediram desculpas nesta sexta-feira por não terem descido do ônibus e visitado uma instituição beneficente em Santos . O trio e outros jogadores evangélicos se recusaram a fazer a entrega de ovos de páscoa na quinta-feira, pois o local era uma casa espírita". Segundo o site esportivo, o trio de jogadores arrependido, pediu desculpas durante o programa Jogo Aberto. Para os tais jogadores "Não faltou solidariedade. A gente sabe da importância que tem no futebol e que milhões de crianças querem ser que nem a gente. Só não entramos, porque ficamos sabendo que era um ritual de religião", justificou Robinho, por telefone.
Se não faltou solidariedade, faltou respeito a diferença e a diversidade. Será que esse trio de jogadores só são solidários e só tem respeito com aqueles que têm os mesmos valores religiosos e culturais que eles? Será que esses jogadores não vivem (e nunca viveram) no Brasil? Será que o Robinho e seus amigos nunca viram ou participaram de uma cerimônia afro-brasileira ou mesmo espírita? Eles devem ter sido criados numa colônia de algum povo estrangeiro de religião protestante que se manteve isolada daqueles que vivem diariamente a cultura afro-brasileira!!! Somente tal hipótese (por mais absurda que seja) justificaria tal espanto do Robinho e dos seus colegas...

Quando esse mesmo jogador (que veste a camisa 7 do Santos) faz questão de afirmar que o elenco santista voltará ao local para dar os presentes às crianças. Eu sou obrigado a duvidar das suas intenções. Afinal de contas, quando ele diz que "A gente sabe que visitar uma instituição de caridade é excelente para nossa imagem". Fica claro que quando eles fazem alguma caridade é para conseguir destaque na mídia nacional. Se eles estão olhando e escolhendo para quem vão fazer o ato de bondade, na minha opinião, voltar na instituição não tem significado nenhum para eles. Isto por que não é um desejo verdadeiro deles. Eles querem apenas ficar de bem com a opinião pública. E isto destrói todo sentido ético-moral da atitude dos jogadores do Santos.
Acredito que já é hora de parar de endeusar esses jogadores. Afinal de contas, eles não podem ser formadores de opinião. Eles são é (des)formadores de opinião. Falta a tais jogadores descobrirem o que é o Brasil de fato e quem são os brasileiros? Eles deveriam aprender um pouco sobre a história do Brasil, a história dos povos africanos que foram escravizados no Brasil e a importância que as religiões afro-brasileiras tiveram na construção da nossa identidade nacional!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Existe pré conceito no Brasil??? Mas por que "Robinho aponta religião como motivo para não participar de ação solidária ?????

Num mundo marcado por um discurso da tolerância e do respeito, como podemos lidar com atitudes iguais a do time dos Santos que se recusou a participar da entrega de ovos da pascoa para crianças com necessidades especiais?????

O motivo da recusa do time do Robinho estava no fato dessas crianças serem tratadas por uma instituição espírita.

Eu creio que tal atitude do time do Robinho é intolerância, pré conceito e discriminação contra uma religião.

Será que merecem respeito apenas quem é cristão (católico ou evangélico)? Será que todo o trabalho de caridade, de respeito com a diferença e de ajuda ao próximo empreendido pelos espíritas não tem valor? Será que existe um certo (e esse certo faz parte apenas do universo do cristianismo)? Será que existem pessoas (como esses jogadores de futebol) que são os donos da verdade? Será que não é a hora de desconstruir o poder de formação de opinião de pessoas como esses jogadores de futebol?

Será que o público do Santos tem a mesma religião e atitude desses jogadores???

Eu não sei as respostas! Só sei que quando contei o que havia lido (a transcrição dos textos seguem abaixo) ninguém acreditou no que disse. Parece que eu ando louco, que ando imaginando coisas... Afinal nos dias de hoje discriminar crianças com problemas físicos e mentais é um ato totalmente inaceitável. Mas o que o time do Santo fez... é aceitável????



LEIA OS TEXTOS ABAIXO QUE ME LEVARAM A NÃO ACREDITAR NO QUE O SANTOS FEZ

"Robinho aponta religião como motivo para não participar de ação solidária

www.espbr.com/noticias/jogadores-santos-entregam-ovos-pascoa-lar-espirita/relacionadas

Na tarde da última quinta-feira, o elenco do Santos foi até o Lar Espírita Mensageiros da Luz entregar ovos de páscoa para as crianças atendidas pela instituição. Só que alguns jogadores, como Robinho, preferiram não descer do ônibus.

O camisa 7 aponta a religião como responsável pela atitude de alguns jogadores e diz que isso não deve gerar polêmica.

Só ficamos sabendo quando chegamos ao local que se tratava de um ambiente espírita. Cada jogador tomou a atitude que achou conveniente, e acho que a religião de cada um precisa ser respeitada. Ninguém orientou a gente para que tomássemos essa atitude. Ela foi movida pela religiosidade de cada um. Isso não tem que virar polêmica disse o atacante, em entrevista à TV Bandeirantes."
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"Jogadores do Santos não entregam ovos de Páscoa em lar espírita

Redação CORREIO
Em evento promovido pelo patrocinador do time, maioria dos jogadores do Santos se recusaram a fazer entregas de ovos de páscoa para 34 pessoas - entre elas crianças e adolescentes com paralisia cerebral - porque a instituição beneficente segue a rotina espírita.

Neymar, Robinho e Ganso, entre outros, foram até o local, mas não desceram do ônibus. O presidente do Santos afirmou que sabia que alguns jogadores recusariam a proposta, mas não conseguiu evitar o constrangimento.

como No início deste ano, o Santos publicou uma cartilha de conduta, que proíbe manisfestações religiosas com a camisa do time. O Santos enfrenta o São Caetano no próximo domingo (4) às 18h30, fora de casa, pelo Campeonato Paulista." (Do site www.espbr.com/noticias/jogadores-santos-entregam-ovos-pascoa-lar-espirita )

Quem sou eu

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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Graduado nos cursos de Filosofia e História pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Filosofia da Arte e Estética pela mesma Universidade. Atualmente sou professor assistente b do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Tenho experiência na área de Filosofia, com ênfase em História e Filosofia da Arte, atuando principalmente nos seguintes temas: fundamentos filosóficos da educação, introdução ao pensamento científico e filosofia da ciência, cinema e artes visuais, aspectos formais da arte, criatividade, processo de criação, estética da formatividade de Luigi Pareyson, cultura e modernidade brasileira.