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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

LUKÁCS, George. “A questão Lógica do Particular em Kant e Schellin”. In: Introdução a uma Estética Marxista. - Sobre a Categoria da Particularidade; tradução de Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder. - Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1968. pàgs. 03-34.

LUKÁCS, George. “A questão Lógica do Particular em Kant e Schellin”. In: Introdução a uma Estética Marxista. - Sobre a Categoria da Particularidade; tradução de Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder. - Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1968. pàgs. 03-34.


Segundo Lukács, a “primeira obra na qual o problema da particularidade - tipicamente consciente porém antiquíssimo em si mesmo - ocupa um lugar central é a Crítica do Juízo”.(p. 08) A “filosofia de Kant ( e nela, a Crítica do Juízo) não representa uma grandiosa e fundamental síntese à base da qual deve ser construída o pensamento posterior nem representa a descoberta de um novo continente, ‘uma revolução copernicana’ na história da filosofia. Ela é - e naturalmente, isso não é pouco - um momento importante na aguda crise filosófica desencadeada no século XVIII”.(p.08), isto é, “sua filosofia é mais um sintoma da crise do que uma tentativa realmente seria para dar-lhe solução”(p.09). Entretanto, não é um simples acaso que na 3ª Crítica venha a ser colocadas aquelas questões que uma nova ciência, a biologia, havia apresentado à filosofia, questões que obrigavam a despedaçar a moldura do pensamento coerentemente mecanicista das correntes dominantes da época”. Segundo Lukács, o surgimento da biologia como ciência está vinculado à luta pela evolução. Sendo assim, “é certo que o simples fato, o simples fenômeno da vida obriga Kant a ir além da metodologia da Crítica da Razão Pura”.(p.09). Kant, segundo Luckács, “precisa ir além daquela relação entre pensamento e ser que estabeleceu na Crítica da Razão Pura, na qual, sabemos, qualquer forma completa e realizada, qualquer princípio formador, só existe por parte do sujeito. Já que, entretanto, todas as categorias, todas as formas, são produzidas pela subjetividade criadora transcendental, Kant precisa, coerentemente, negar ao conteúdo ao mundo das coisas em si, qualquer princípio formador, só existe por parte do sujeito, ao passo que conteúdo daquela “afecção” que a coisa em si exerce através das sensações físicas, sobre o sujeito. Já que, entretanto, todas as categorias, todas as formas, são produzidas pela subjetividade criadora transcendental, Kant precisa coerentemente, negar ao conteúdo, ao mundo das coisas em si, qualquer caráter completo de forma, precisa concebê-lo como um caos que, em princípio, não possui ordem e só pode ser ordenado com as categorias do sujeito transcendental. (...) A classificação e a especificação obrigam Kant a ir além dessa concepção”.

“Na sua tentativa precedente de salvar a validade objetiva das leis naturais, da matemática da física - que em Kant é essencialmente mecanicista - do escândalo da filosofia e da razão humana universal’, das conseqüências extremas do solipsimo de um Berkeley ou de um Hume, ele fora constrangido a recorrer aos a priori da sensibilidade (espaço e tempo) e do intelecto, que eram destinados a garantir a objetividade da estrutura formal do mundo exterior. Mesmo prescindindo dos limites ideológicos gerais dessa concepção, a estrutura do mundo exterior e das leis é toda ela modelada à baseada metodologia da matemática e da física (mecânica)”.(p.13-14). Lukács nos pergunta: então como é possível compreender o fenômeno da vida com essa aparelhagem conceptual? Para ele, Kant, pelo menos parcialmente, viu de forma clara a dificuldade e a expressou: “Na sua legislação transcendental da natureza, o intelecto se abstrai, porém de qualquer multiplicidade possíveis leis empíricas; e só leva em consideração as condições de possibilidade de uma experiência em geral segundo a forma delas. Nele, pois, não se encontra o princípio da afinidade das leis particulares da natureza” (p.14) Assim, o juízo tem por tarefa, no sistema kantiano, lançar uma ponte sobre esse abismo.

Introdução da Crítica do Juízo, seção VIII

O problema gnoseológico, segundo Lukács, “apesar de todos os limites das concepções de Kant a respeito da evolução surge em última análise da concreta problemática da biologia (organismo, vida, espécie, gênero, etc.). A completa recusa de qualquer cognoscibilidade desses fenômenos seria mais do que um agnosticismo gnoseológico: seria o reconhecimento da falência da ciência”(p.15)

O agnosticismo idealista subjetivo em Kant, não mais se referia apenas aos princípios mais abstratos de um conhecimento científico em geral e sim, direta e imediatamente, à própria praxis científica concreta”.

Segundo Lukács, Kant busca compreender os novos fenômenos com uma aparelhagem conceptual que vá além da mecânica e cai necessariamente na categoria da finalidade. Kant não intenciona fazer com que a finalidade desemboque aberta e diretamente na teologia. Também não pretende utilizar a finalidade como uma nova categoria para afastar as leis da causalidade, procurando antes, colocá-la de acordo com o sistema geral daquelas leis. Por isso, ele define a finalidade como “uma conformidade à lei do contingente como tal. Para Kant, só é necessário aquilo que pode ser conhecido a priori o restante é contingente. Assim, qualquer especificação, qualquer diferenciação ( tudo o que é singular e particular) deve necessariamente aparecer enquanto contingente. (p.18-19)

“Com a ‘conformidade a lei contingente, daquilo que é finalístico (o organismo), Kant não pensa absolutamente em eliminar a necessidade causal e a conformidade à lei, e sim conservá-la no seio da objetividade (possível, no seu sistema) da causalidade concebida à maneira mecânica”(p.19). A exigência de uma conformidade a leis dos organismos tem mais peso na medida em que Kant tem a exata sensação de que qualquer modo fenomênico concreto e específico da vida, considerado do ponto de vista da pura e simples conformidade às leis mecânicas, deve ter um insuprimível caráter contingente: ‘que a natureza, considerada como simples mecanismo, teria podido configurar-se de mil outras maneiras...” (p.20)

Para Lukács, a persistência de tal exigência ocorre porque a concepção kantiana metafísica e a-historica do mundo torna impossível uma justa compreensão do finalismo na vida orgânica. “Kant define o finalismo do seguinte modo: ‘uma coisa existe como fim da natureza quando é causa e existe como fim da natureza quando é causa e efeito de si mesmo (embora em duplo sentido)...” Daí resultaria, por um lado, que ela se produz a si mesma tanto como gênero quanto como indivíduo; e, por outro , que deve existir entre as partes uma conexão tal ‘que a conservação da parte e a conservação do todo dependam uma da outra’; que “as partes (relativamente a existência e a forma delas) só sejam possíveis através de sua relação com o todo”. Segundo Lukács, ao invés de Kant descobrir aqui uma nova forma superior dos nexos conformes a leis, ao invés de desenvolver dialeticamente daquilo que é mecânico a “força formativa” ( por ele contraposta à “força unicamente motriz” da mecânica), ainda uma vez mais o pensamento kantiano se prende a uma contraposição rígida, tão metafísica quando agnóstica, como vemos aqui: “Falando rigorosamente, a organização da natureza não tem, pois, analogia alguma com qualquer causalidade que conhecemos”(p.20-21)




Seção VIII da Crítica do Juízo



O “juízo estético é uma particular faculdade de julgar as coisas segundo uma regra mas não segundo conceitos”. “Assim , em Kant, a estética se torna não só subjetivista como também formalista: o afastamento do conceito importa na dissolução do conteúdo. (...) Em suma: a estética se transforma dessa maneira em um ‘parque reservado da natureza’, cuidadosamente isolado da esfera modo de consideração teleológico, não possui nenhuma ‘faculdade particular, mas é simplesmente o juízo reflexivo em geral’. É um conhecimento por conceitos, porém tal que não pode haver nenhum poder ‘objetivamente determinante’. Deste modo, a objetividade científica para a biologia é simultaneamente requerida e negada”(p.22)



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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Graduado nos cursos de Filosofia e História pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Filosofia da Arte e Estética pela mesma Universidade. Atualmente sou professor assistente b do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Tenho experiência na área de Filosofia, com ênfase em História e Filosofia da Arte, atuando principalmente nos seguintes temas: fundamentos filosóficos da educação, introdução ao pensamento científico e filosofia da ciência, cinema e artes visuais, aspectos formais da arte, criatividade, processo de criação, estética da formatividade de Luigi Pareyson, cultura e modernidade brasileira.