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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Pedro Bial fica triste com a saída da letra S de simpatizante e com a introdução da sigla LGBT

Sempre que se fala do jornalismo produzido pela rede Globo somos levados a pensar num profissional que (antes de fazer qualquer pergunta ou apresentar qualquer informação) busca verificar a origem da informação ou do dado (ou ainda que tenha feito uma pesquisa sobre o assunto que irá abordar). Mas tal (pré)conceito só existe na nossa cabeça, uma vez que todos os dias exemplos contrários são apresentados pela grande emissora nacional.
Para citar um exemplo, gostaria de lembrar um fato ocorrido recentemente no BBB10. Em tal programa surgiu uma discussão acerca das siglas GLS e LGBT. Falaram da supressão da letra S (simpatizantes) que (segundo alguns participantes) todos temos que ser simpáticos a causa da diversidade de orientações e das múltiplas sexualidades. Mas, o fato é nem o apresentador conhece a história dessas siglas, muito menos o motivo que levou a substituição da nomeclatura GLS por LGBT. E nós estamos falando de um jornalista extremamente culto e de dois membros do universo gay brasileiro.
O que mais me incomoda que a falta de uma informação correta faz com que a desinformação do apresentador / produção do programa / participantes se torne a verdade.
Para combater a desinformação, gostaria de apresentar alguns dados.
A onda simpatizante em terras brasileiras teve inicio no festival Mix Brasil, em outubro de 1994. Na década de 90, por incrível que pareça, muitas pessoas não viam com bons olhos nenhum tipo de evento destinado para o público gay. Para muitas pessoas, um evento gay era algo negativo, meio marginal, onde, a tradicional família brasileira não podia ir. Entao, para abrir espaço nos mais diferentes tipos de mídia, conseguir público fora do universo gay e obter um status de modernidade, o tal festival (que para muitas era um espaço de manifestações através do áudio visual das mais variadas sexualidades) anunciou em alto e bom tom que era um evento voltado para o público GLS.
Eu não preciso dizer que todos naquela época queriam saber quem ou o que era GLS. Essas três letrinhas conseguiram conquistar mais simpatia do que o próprio festival e se espalharam por todos o Brasil.
Será que ninguém se lembra mais das famosas camisetas com essas três letras? Elas foram lançadas numa época em que o São Paulo Fashion Week se chamava Phytoervas Fashion Week, num desfile outono-inverno, pela grife Divas. Com três variações: cada t-shirt com uma das letras maiores, de acordo com a orientação sexual de quem a usa. Tais camisetas eram disputadíssimas no Mercado Mundo Mix.
Eram camisetas que podiam variar de acordo com a orientação do usuário, ou seja, se a pessoa fosse gay, a letra G era representado num tamanho muito maior do que as outras. De todas as camisetas, as que fizeram mais sucesso foram as que tinha a letra S com mais destaque. Uma pequena pesquisa, em jornais da época, pode mostrar, por exemplo, fotos de personalidades como Joyce Pascowitch com uma dessas camisetas tendo em destaque o S de simpatizante.
A sigla GLS não foi registrada, pois a idéia é que todas a utilizassem, criando espaços mais plurais, onde houvessem respeito pelas diferenças.
Nesse sentido, a sigla GLS era muito mais comercial. Eu sei que tal sigla tornou o universo LGBT muito mais visível e ajudou a quebrar alguns preconceitos. Naquela época, pessoas (os chamados simpatizantes) descobriram lugares como as boites Le Boy (no Rio de Janeiro) e eventos como o Mercado Mundo Mix. Isso foi importante para tirar da mente das pessoas que o mundo gay não era apenas marcado pela marginalidade.
E ela não conseguia representar todo o panorama sexual desse grupo, afinal de contas só existem gays e lésbicas? E as transexuais? E os travestis? E os bissexuais? Esse foi o motivo que levou a substituição da sigla GLS por LGBT.

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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Graduado nos cursos de Filosofia e História pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Filosofia da Arte e Estética pela mesma Universidade. Atualmente sou professor assistente b do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Tenho experiência na área de Filosofia, com ênfase em História e Filosofia da Arte, atuando principalmente nos seguintes temas: fundamentos filosóficos da educação, introdução ao pensamento científico e filosofia da ciência, cinema e artes visuais, aspectos formais da arte, criatividade, processo de criação, estética da formatividade de Luigi Pareyson, cultura e modernidade brasileira.