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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

E a universidade de São Bernardo foi parar no Taleban!!!!!






Taleban na faculdade

(Texto de Ronaldo Campos)

Eu não sei o motivo que me levou a assinar um jornal diário como a Folha de S. Paulo! Eu não estou reclamando da qualidade do jornal. Estou me queixando de algumas noticias que sou obrigado a ler todos os dias. Hoje, dia 30 de outubro de 2009, fiquei passado com a reportagem intitulada “Taleban na faculdade”. Esta notícia relata um fato ocorrido numa universidade de São Bernardo, onde, uma multidão de alunos atacou uma mulher. Ela foi acredita física e moralmente por ser mulher e por estar vestida de forma inadequada. Ou seja, o crime dessa moça foi se vestir e se maquiar como uma mulher.
Pelo que entendi esses alunos (a sua maioria do sexo masculino) não aceitam que uma mulher (com todas as características femininas) freqüente um curso superior. Uma mulher de microvestido, muito bem penteada, de sapado de salto alto e maquiada está proibida de freqüentar uma universidade?
Quem pode freqüentar uma universidade? Um homossexual (com características e postura claramente gay) pode freqüentar uma universidade? Ou qualquer outra pessoa pertencente a qualquer tipo de minoria pode freqüentar um curso superior?
Pelo que li na reportagem da folha de São Paulo, acredito que os tais alunos da universidade de São Bernardo não toleram a diferença! E esses alunos não aceitariam um gay assumido, uma mulher (tipo fatal), um muçulmano com trajes típicos e assim por diante.
Eu fico pensando se essa história for relatada num jornal ou tv de um outro país... Certamente, eles imaginarão que São Bernardo (e conseqüentemente, o Brasil) é um lugar atrasado, de pessoas sem qualquer tipo de elementos civilizatórios. Ou seja, esses alunos (esses brasileiros) de São Bernardo pareciam homens sem educação, cultura ou respeito ao outro. Mas, eu conheço essa cidade e sei que a coisa não é bem assim. Eu só não conheço a tal universidade e não posso dizer muita coisa... Só sei que pelo que vi e li, a coisa por lá não é muito fácil... Essa noticia me faz pensar nos seguintes termos: tolerância, intolerância, intolerável, respeito, aceitação. Essas três dimensões atravessam o nosso dia a dia e misturam-se como ingredientes expressivos da ação humana. Pelo que aconteceu lá em São Bernardo, tais conceitos não são muito bem compreendidos e muitas vezes usados para justificar ou injustificar o mesmo ato.
O que sei é que todos os crimes da história são conseqüência de algum tipo de fanatismo. E o que vi com essa estudante de turismo foi o pior dos fanatismos e da intolerância, do desrespeito a alteridade.
Se pensarmos nas guerras que acontecem atualmente podemos dizer que esses massacres foram (e são) cometidos em virtude, ou de uma “verdadeira religião” ou de um nacionalismo “mais” legítimo, ou de uma política idônea, ou de uma ideologia justa; em suma, o que ocorreu (e o que ocorre) sempre é efetivado em nome do combate contra a verdade do outro.
Esses alunos que agrediram a tal aluna, certamente, por verem tal mulher como sendo a figura de Satanás, do mal supremo. Eu nunca vi tantos homens gritando e agredindo uma mulher que estava vestida como uma mulher. Será que esses alunos nunca viram uma mulher daquele jeito? Será que eles gostariam de tê-la, mas por ser algo inacessível tiveram uma reação tão violenta? Eu, absolutamente, não sei a resposta para tais questões...
Outra pergunta que surge, imediatamente, é: como fazer frente a tamanha intolerância?
Eu creio que é responsabilidade do Estado fortalecer a legislação referente aos direitos humanos, proibir e castigar os crimes motivados pelo ódio e a discriminação das minorias independentemente do fato de estes crimes serem cometidos por representantes do Estado, organizações privadas ou indivíduos. Mas, lutar contra a intolerância requer educação! Lembre-se que a educação é um processo contínuo que se prolonga durante toda a vida; não começa nem termina na escola.
Só que a nossa sociedade e a tal universidade não estão conseguindo educar tais homens para respeitar o direito do outro de agir, de se vestir e de ser o que de fato é.

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Quem sou eu

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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Graduado nos cursos de Filosofia e História pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Filosofia da Arte e Estética pela mesma Universidade. Atualmente sou professor assistente b do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Tenho experiência na área de Filosofia, com ênfase em História e Filosofia da Arte, atuando principalmente nos seguintes temas: fundamentos filosóficos da educação, introdução ao pensamento científico e filosofia da ciência, cinema e artes visuais, aspectos formais da arte, criatividade, processo de criação, estética da formatividade de Luigi Pareyson, cultura e modernidade brasileira.