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domingo, 8 de abril de 2012

O Cinema Morreu!

Texto: Ronaldo Campos


Muito já foi dito ou escrito sobre a morte da arte, o fim do cinema, o desaparecimento do livro impresso e o esgotamento da canção. O certo é que a arte, o cinema, o livro e a canção permanecerão, contudo, a maneira como eles serão produzidos, compreendidos, exibido-apresentados sofrerá grandes mudanças no tempo-espaço. O que morre é uma certa maneira de ver, de entender, de absorver, de significar essas formas artísticas. O filme (antes visto em grandes e belos cinemas por centenas de pessoas) é visto individualmente no celular, no computador, na televisão ou por pequenos grupos em salas de Shoppings.A maneira de ver (e o modo como será visto) determina mudanças na maneira de se produzir os filmes. Há uma profusão enorme de filmes inspirados em antigas séries de televisão e\ou histórias em quadrinhos, refilmagens de antigos sucessos e as intermináveis continuações (acredita-se que há mais chance do telespectador ver algo que ele já conhece ou está familiarizado). O expectador do século XXI quer consumir uma história que não exige muito esforço para assimilar. Nos filmes contemporâneos produzidos pela grande indústria, predomina a agilidade da montagem, o corte rápido, diálogos curtos e uma história simples (quase esquemática). Tudo deve ser feito para satisfazer esse consumidor que não quer perder o seu tempo com uma obra que exige muito esforço mental. Tais obras mais complicadas ficam restritas ao circuito dos grandes festivais de cinema (reparem que muitos filmes premiados nem ao menos chegam ao cinema, são exibidos no circuito de arte destinado para poucas pessoas).Eu não quero parecer saudosista. Mas o cinema (e não os filmes em si mesmo que isto fique claro) morreu! Não se faz mais filmes como antigamente e não existe mais a constelação de astros e estrelas que povoaram a imaginação de tantas pessoas por tanto tempo.Como tenho saudades desse mundo que acabou! Recordo as minhas primeiras experiências com a arte cinematográfica. Lembro-me do meu primeiro filme: “Marcelino, pão e vinho”. Rememoro o meu primeiro cinema: o Cine Odeon (na Avenida do Contorno, bairro Floresta, em Belo Horizonte).Tenho tão forte a lembrança da grande expectativa ao ir pela primeira vez num cinema. Era uma grande sala, cheia de adultos e crianças. Eu, minha tia Nenem e meu irmão sentados naquelas cadeiras duras de madeira, com o olhar fixo para as cortinas fechadas. O cheiro de pipoca, o vendedor de balas e aquela música suave ao fundo criavam um clima e uma grande expectativa para o início de toda aquela experiência.Eu já tinha visto alguns filmes pela televisão, mas nunca tinha diante dos meus olhos uma tela tão grande. E nunca tinha visto um filme com tanta gente reunida. Quando a hora do filme chegou, ao mesmo tempo em que a luz e a música diminuíam, a cortina se abre, a ansiedade aumentava, e era dado início ao filme. A luz que surge naquela imensa tela branca criava imagens em movimentos que eram um tanto quanto oníricas.Era uma janela (um portal) para outra dimensão. Naquele momento, eu não estava mais na cidade de Belo Horizonte. Estava entre os frades franciscanos que encontraram (e criaram) um bebê que foi deixado na porta do mosteiro. E a medida que o filme se desenrolava na tela, eu não apenas via (mas revivia e por que não dizer sentia todas aquelas emoções). Como me emocionei (com risos e lágrimas) diante, primeiro, das travessuras, da desobediência e da imaginação de Marcelino que levava todos no convento à loucura, depois, da solidão e da falta de amigos da sua idade para brincar, de uma família de verdade e igual a de quase todo mundo. E, por fim, o milagre.

Quando o filme terminou e as luzes acenderam, nos dirigimos para fora do cinema. Mas a magia daquela história ainda estava impregnada em mim. E foi essa magia (que me deixava desnorteado e sem saber o que era real e o que era fantasia) me vez voltar incontáveis vezes ao cinema.Até hoje quando revejo algumas cenas sou tomado por uma forte emoção. Como por exemplo, aquela cena da fuga das bicicletas no filme de Steve Spielberg. Em especial, quando a bicicleta do menino Elliot (que está com um extraterrestre) está quase sendo capturada por funcionários do governo e, no último instante, todas as bicicletas começam a voar e os nossos heróis ficam a salvo. A cena é linda! Mas, é indescritível a emoção de ver todo o cinema (eu vi no cine Jacques, na rua Tupis, onde hoje temos o tenebroso Shopping Cidade, em Belo Horizonte) aplaudindo de pé aquele momento.E pelos cinemas de Belo Horizonte me emocionei com filmes do passado e do presente. Eu nunca me esqueci dos festivais promovidos pelo Paulo Arbex, dos maravilhosos filmes de arte que descobri no cine Pathé, na Sala Humberto Mauro, no Savassi Cine-Clube e nos cinemas Liberdade, das grandes comédias e aventuras exibidas no Cine Brasil, da grandiosidade do Cine Metrópole, da simplicidade e da euforia dos cinemas de bairro (o Cine Roma, do Ipiranga, o Cine Floresta, o cine São Cristóvão...), das incontáveis vezes que me escondi do mundo espiando estrelas na escuridão de uma sala de cinema. Talvez por isso, sempre que viajo procuro por esses templos cinematográficos. Busco reencontrar aquela magia que desapareceu em Belo Horizonte.Na capital mineira, não há mais cinemas. Existem pequenas salas perdidas em grandes shoppings que exibem filmes comerciais. Nesses lugares, a preocupação maior é atrair o consumidor. É vender, vender, vender..

Outro dia, resolvi ver a versão atualizada do clássico “Branca de Neve e os sete anões” intitulada “Espelho, espelho meu” que era exibida na sala 2 do Cinemark, do Shopping Diamond. Logo, no inicio quando se  compra o ingresso, você percebe que não vai ver o filme num cinema (mas sim numa sala comercial de exibição de filmes dentro de um grande centro de compras): você compra um lugar marcado (a sala é tão pequena, mas tão pequena, que é necessário demarcar o espaço entre as pessoas). E, ao entrar nessa pequeníssima sala, o que se vê é um aglomerado de pessoas preocupadas em comprar e comer enormes baldes de pipocas e refrigerantes, em não se manter distante muito tempo dos seus celulares, tablets e afins. O filme é um simples passatempo realizado com o objetivo de manter os indivíduos por dentro dos assuntos discutidos nas redes sociais. As pessoas vão ao cinema como uma obrigação: elas têm que ver aquele filme que todos comentam no facebook ou no twiter.
O que se tem nessas salas de shopping é uma frieza, é um desrespeito com o cinema.




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Quem sou eu

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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Graduado nos cursos de Filosofia e História pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Filosofia da Arte e Estética pela mesma Universidade. Atualmente sou professor assistente b do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Tenho experiência na área de Filosofia, com ênfase em História e Filosofia da Arte, atuando principalmente nos seguintes temas: fundamentos filosóficos da educação, introdução ao pensamento científico e filosofia da ciência, cinema e artes visuais, aspectos formais da arte, criatividade, processo de criação, estética da formatividade de Luigi Pareyson, cultura e modernidade brasileira.